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CLAUDIO ANGELO
O ano em que ficamos "sustentáveis"
DOIS MIL E SETE já garantiu
seu lugar na história como o
ano em que nos tornamos
sustentáveis. Ou melhor, "sustentáveis". Assim mesmo, entre aspas.
Neste ano, vimos a verdade inconveniente da mudança climática
se transformar em verdade inconteste pelas mãos do IPCC, sigla que
já dispensa explicações. O aquecimento global saiu do gueto dos
abraçadores de árvore para ganhar
as manchetes dos jornais (três vezes só nesta Folha), virar tema de
conversa de boteco, levar um Prêmio Nobel e -glória suprema- decidir a eleição em um país rico, a
Austrália.
Nunca antes na história deste
planeta se ouviu tanto a palavra
"sustentável", e de fontes tão insuspeitas: de propagandas de bancos a anúncios de governo a discursos de George W. Bush. Exatos 20
anos após ter sido cunhado, o conceito de sustentabilidade atinge o
auge da fama- e da apropriação
indébita.
As instituições financeiras nacionais gastam milhões em anúncios de TV, imprimem cheques em
papel reciclado e criam linhas de
financiamento para o consumidor
"sustentável" comprar sua picape
a diesel e compensar suas emissões plantando arvorezinhas. Fariam muito mais pelo país e pela
sustentabilidade (sem aspas) se
parassem de financiar os pecuaristas e outros "heróis" do agronegócio que desmatam ilegalmente a
Amazônia e elevam as emissões de
CO2 do Brasil.
O governo Lula, em sua esquizofrenia ambiental, comemora a
queda no desmatamento e promove o álcool como solução "sustentável" para o efeito estufa ao mesmo tempo em que leiloa termelétricas a carvão. Depois encontra
petróleo na bacia de Santos e silencia sobre os efeitos climáticos do
"Brasil na Opep". Um membro do
governo afasta temores de que isso
vá transformar o país num grande
emissor de gás carbônico: "O petróleo será exportado", tranqüiliza. Por essa lógica, a Arábia Saudita
é perfeitamente "sustentável".
Brasília faria mais pela sustentabilidade se aposentasse a obsessão
stalinista do gabinete por térmicas
e por grandes hidrelétricas na
Amazônia e investisse em eficiência energética (até a China faz isso!), renováveis e, se não der para
resistir, em energia nuclear.
Por fim, os diplomatas dariam
uma grande contribuição se boicotassem a tal reunião das "Grandes
Economias" convocada por Bush
para janeiro. O atual governo americano tentou e quase conseguiu
transformar a conferência do clima num fracasso. Oferece como alternativa uma feira de negócios. Já
é mais do que hora de passar a borracha sobre Bush e esperar os democratas assumirem.
Enquanto nada disso acontecer,
aspas insustentáveis pairam sobre
2008.
CLAUDIO ANGELO é editor de Ciência
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