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RUY CASTRO
Ser jovem e continuar vivo
RIO DE JANEIRO - Em 12 de novembro último, sob pretexto fútil,
dezenas de alunos de uma escola do
Belém, zona leste de São Paulo, promoveram um quebra-quebra das
salas de aula. Ameaçaram as mestras, destruíram móveis e quebraram vidros arremessando cadeiras.
Nas paredes, segundo o noticiário,
picharam desenhos de armas, citações do Código Penal e a sigla do
PCC, principal facção criminosa de
São Paulo e, agora, do país. A escola
chamou a polícia, também recebida
com violência pelos jovens.
Oito dias depois, em Londrina,
PR, 40 estudantes de medicina da
universidade do Estado foram comemorar sua formatura num bar.
De cara cheia, tarde da noite, invadiram o hospital universitário aos
gritos, bebendo pelo gargalo, despejando nuvens de spray de espuma,
soltando foguetes e ofendendo os
pacientes petrificados. As câmeras
identificaram 14 deles, que, supunha-se, não poderiam colar grau.
Na semana passada, um cruzeiro
para universitários entre Santos e
Rio foi palco do terror em tempo integral. Rapazes e moças jogaram
malas de passageiros no mar, urinaram nos corredores, vomitaram sobre o bufê, fizeram sexo a céu aberto e lotaram a enfermaria com dezenas de intoxicações por álcool,
ácido, cocaína e ecstasy.
Mas, desta vez, houve um acidente de percurso. Com a viagem ainda
no começo, uma estudante de direito, Isabella, 22 anos, apareceu morta, talvez asfixiada pelo próprio vômito. O corpo foi removido em Ilhabela, e o passeio continuou, com a
mesma e desesperada euforia.
Nunca foi tão difícil ser jovem e
continuar vivo. Os apelos ao prazer
são muitos e a facilitação, presente
em todos os setores, maior ainda.
Os vândalos de Londrina, por
exemplo, colaram grau -pelo diploma, são médicos. Uma tragédia
como a de Isabella talvez não sirva
para nada.
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