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MARCOS NOBRE
Resposta
CARO AMIGO, obrigado pela
mensagem da semana passada. Às vezes, é difícil avaliar
bem as coisas aqui de longe. Principalmente quando há um clima de
frenético entusiasmo nacional, para o bem e para o mal, como o que
está acontecendo agora por aí. Deveria no mínimo fazer a gente parar para pensar.
Se entendi bem, você acha que o
governo FHC riscou um círculo
bem estreito para marcar quem estava dentro e quem estava fora da
nova modernização brasileira, preservando os padrões de distribuição de renda lamentáveis do país.
Por outro lado, não havia de fato
nenhuma outra opção de estabilização disponível. E uma estabilização, mesmo conservadora, é melhor do que nenhuma, é melhor do
que a selvageria inflacionária na
economia e na política.
Mantendo os pilares postos por
FHC, o governo Lula riscou mais
longe o círculo de quem tem chances de pegar o velho bonde da nova
modernização. Só que a linha não
alcança todo mundo. Muita gente
vai ficar pelo caminho. A resposta
para essas pessoas é ou Bolsa Família ou repressão policial. Claro,
melhor com Bolsa Família do que
sem ela. Melhor também que muito mais pessoas possam se beneficiar da nova modernização. Mas
essa limitação já deveria ser suficiente para evitar comemorações
entusiásticas pela entrada do país
no time dos que saem na fotografia.
Se foi isso mesmo o que você quis
dizer, acho que a conclusão a tirar é
a de que os dois polos da política
brasileira, PT e PSDB, produziram
nos últimos 15 anos um acordo de
base que realmente deitou raízes
em parte significativa da sociedade. Um acordo que promete futuro
para quem pode se integrar. Um
acordo que coincide agora com a
euforia de país emergido.
Mas, se é assim mesmo, como
haverá polarização? O que irá distinguir as candidaturas de PT e de
PSDB? As personalidades? Os governos? Essa ideia de "comparar
governos" me parece já não ter
sentido. Claro que há diferenças.
Mas as diferenças agora já foram
definitivamente incorporadas a esse grande acordo de base. Não são
mais diferenças! Quem quer que
ganhe as próximas eleições presidenciais encontrará nesse grande
acordo os limites de sua atuação
política. Não vai poder se mexer
muito para nenhum lado.
Como você, acho assustador que
esse acordo e essa euforia incluam
aceitar como efeitos colaterais inevitáveis do sucesso a criminalidade, a pobreza e a corrupção. Apesar
dos discursos, acho que é para aí
mesmo que se está caminhando.
De modo que só posso mesmo desejar que 2010 traga uma euforia
de olhos bem abertos. Um grande
abraço!
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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