São Paulo, terça-feira, 29 de dezembro de 2009

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MARCOS NOBRE

Resposta

CARO AMIGO, obrigado pela mensagem da semana passada. Às vezes, é difícil avaliar bem as coisas aqui de longe. Principalmente quando há um clima de frenético entusiasmo nacional, para o bem e para o mal, como o que está acontecendo agora por aí. Deveria no mínimo fazer a gente parar para pensar.
Se entendi bem, você acha que o governo FHC riscou um círculo bem estreito para marcar quem estava dentro e quem estava fora da nova modernização brasileira, preservando os padrões de distribuição de renda lamentáveis do país.
Por outro lado, não havia de fato nenhuma outra opção de estabilização disponível. E uma estabilização, mesmo conservadora, é melhor do que nenhuma, é melhor do que a selvageria inflacionária na economia e na política.
Mantendo os pilares postos por FHC, o governo Lula riscou mais longe o círculo de quem tem chances de pegar o velho bonde da nova modernização. Só que a linha não alcança todo mundo. Muita gente vai ficar pelo caminho. A resposta para essas pessoas é ou Bolsa Família ou repressão policial. Claro, melhor com Bolsa Família do que sem ela. Melhor também que muito mais pessoas possam se beneficiar da nova modernização. Mas essa limitação já deveria ser suficiente para evitar comemorações entusiásticas pela entrada do país no time dos que saem na fotografia.
Se foi isso mesmo o que você quis dizer, acho que a conclusão a tirar é a de que os dois polos da política brasileira, PT e PSDB, produziram nos últimos 15 anos um acordo de base que realmente deitou raízes em parte significativa da sociedade. Um acordo que promete futuro para quem pode se integrar. Um acordo que coincide agora com a euforia de país emergido.
Mas, se é assim mesmo, como haverá polarização? O que irá distinguir as candidaturas de PT e de PSDB? As personalidades? Os governos? Essa ideia de "comparar governos" me parece já não ter sentido. Claro que há diferenças.
Mas as diferenças agora já foram definitivamente incorporadas a esse grande acordo de base. Não são mais diferenças! Quem quer que ganhe as próximas eleições presidenciais encontrará nesse grande acordo os limites de sua atuação política. Não vai poder se mexer muito para nenhum lado.
Como você, acho assustador que esse acordo e essa euforia incluam aceitar como efeitos colaterais inevitáveis do sucesso a criminalidade, a pobreza e a corrupção. Apesar dos discursos, acho que é para aí mesmo que se está caminhando.
De modo que só posso mesmo desejar que 2010 traga uma euforia de olhos bem abertos. Um grande abraço!

nobre.a2@uol.com.br


MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.


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