São Paulo, quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Lula, democrata

SÃO PAULO - Faltam três dias para o fim da era Lula. O saldo da sua passagem pela Presidência é francamente positivo. Lula fez bem ao Brasil. Isso vale em especial para o que mais importa: o país hoje percebe melhor as suas desigualdades e a necessidade de combatê-las.
Se na área social houve avanço inequívoco (e se a consolidação da estabilidade com crescimento econômico foi outra grande conquista), o legado político de Lula é bem mais controverso. Já escrevi aqui, em mais de uma ocasião, sobre a capitulação do PT ao que existe de mais atrasado na política brasileira.
Em nome da governabilidade, ou usando-a como pretexto, o lulo-petismo sucumbiu às velhas formas de corrupção, fisiologia e compadrio que um dia teve a pretensão de combater ou reformar. Isso é verdade, mas não esgota a questão.
Lula deixa a Presidência com mais de 80% de aprovação popular. E deixa porque recusou a tentação do terceiro mandato. Hoje isso parece trivial, assunto velho, pão amanhecido. Mas o respeito às regras do jogo e a aposta na democracia é o que de melhor Lula legou ao país em termos de cultura política.
Anteontem, na sua última coletiva, Lula disse: "Acredito muito na democracia e acredito na necessidade de alternância. Você pega o terceiro e quer o quarto. Aí você pega o quarto e por que não o quinto? Em vez de criar uma democracia, está criando uma ditadurazinha".
Basta pensar em Hugo Chávez para perceber que diferença isso faz. Não se trata de tomar obrigação por virtude, mas imagine que retrocesso não seria se o primeiro presidente operário do Brasil decidisse virar a mesa para se manter no poder. É óbvio que Lula, ao agir como deve, também zela pela imagem que vai legar ao mundo e à história. Uma figura como ele está condenada a ser escrava da sua biografia.
Virou um lugar-comum aproximar, pela importância histórica, Lula de Getúlio Vargas. Mas é sempre bom lembrar que Vargas foi um ditador. Lula é um democrata.


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