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MELCHIADES FILHO
Uma no ferro, outra na ferradura
BRASÍLIA - Há exato um ano, em
Londres, a CSN tentou adquirir em
leilão o controle da anglo-holandesa Corus. A brasileira ocupava a 49ª
colocação no mercado mundial.
Acossava um gigante 40 posições à
frente no ranking, com quase cinco
vezes mais empregados e mais que
o triplo de produção de aço. A proposta foi de US$ 11,24 bilhões. Não
vingou por pouco -mais precisamente, por US$ 90 milhões a mais
que a indiana Tata Steel ofereceu.
O governo lamentou em silêncio.
Tinha o diagnóstico, correto, de que
o cenário globalizado pedia/exigia
venturas de países emergentes. O
próprio Lula estimulou em discursos que capitalistas brasileiros
olhassem além da fronteira.
Neste 30 de janeiro, porém, o noticiário flagra o Planalto empenhado em frear a expansão de outro
grupo privado: a Vale, que sonha arrematar a anglo-suíça Xstrata.
Estranho. Os ventos nesse ambiente de negócios não mudaram.
Pelo contrário, cada vez mais players do "Terceiro Mundo" atacam
os mercados dos EUA e Europa. A
"Economist" contou 200 em 2008.
Estranho. O passo da mineradora
parece tão ou mais "natural" do que
o da siderúrgica. Vice no setor, ela
mira na 6ª maior -até porque a líder, a BHP, mexe-se para adquirir a
3ª, a Rio Tinto. Com a Xstrata, a Vale conseguiria também a diversificação de ativos (níquel e cobre).
Estranho. Talvez não haja no país
uma empresa e um executivo tão
próximos do lulo-petismo quanto a
Vale e seu CEO, Roger Agnelli.
Os despachos dão conta de que
Lula teme que a Vale repita a Ambev e exporte o birô decisório e os
novos investimentos. Mas, nesse
meio tão competitivo, por que ela
renegaria uma base tão rica em reservas e sem concorrentes?
Duas hipóteses são mais prováveis. Ou o Planalto está inseguro
com o pós-crise dos EUA e estrila
para "proteger" o dinheiro estatal e
paraestatal aplicado na Vale. Ou joga apenas para arrancar mais um
"doce" do velho companheiro.
mfilho@folhasp.com.br
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