|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Instintos básicos
DAVOS - Instinto é instinto. Não
adianta trocar a roupa de comunista e de funcionário da sinistra KGB
pela de presidente e, agora, primeiro-ministro da Rússia mais ou menos capitalista.
Vladimir Putin conversou ontem
com um grupo de jornalistas com o
compromisso de que seria "off the
records", pelo que só estou autorizado a transmitir o, digamos, espírito da coisa, sem poder usar citações
entre aspas.
E o espírito da coisa ficou muito
nítido: Putin reage a qualquer crítica ou pergunta que ele acha carregada de uma intenção crítica com
um contra-ataque ao país do autor
da pergunta.
Quando Anatole Kaletsky, colunista do "Times" britânico, tocou
na ferida mais aberta, a dos direitos
humanos, ainda por cima falando
da morte de jornalistas na Rússia,
Putin devolveu com observações
sobre violências praticadas, por
exemplo, na França e em outros
países da Europa Ocidental.
Chegou ao ponto de desejar aperfeiçoamentos nas práticas democráticas e de direitos humanos do
Reino Unido, como se fosse comparável o "record" russo e o britânico
na matéria, antes, durante e depois
do comunismo.
O desagradável é que essa mania,
que alguém na sala chamou de "instinto soviético", também aparece
em autoridades brasileiras. Ricardo
Teixeira, o presidente da CBF, ficou
danado quando uma jornalista canadense quis saber o que se faria
para garantir a segurança dos visitantes na Copa de 2014 no Brasil,
justamente no dia em que o Brasil
era escolhido em Zurique.
Respondeu com críticas a um incidente qualquer envolvendo atletas brasileiros no Canadá, como se o
problema da violência urbana fosse
igual no Canadá.
Putin gabou-se de ter feito a primeira transição pacífica e democrática na história da Rússia. Não deixa
de ser verdade (ou quase), mas o
instinto ficou.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Filantrópicas anistiadas
Próximo Texto: Santiago de Compostela - Eliane Cantanhêde: Onde a onda estoura Índice
|