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Reciclagem na capital
Coleta seletiva de lixo é ineficiente na maior cidade do país; 35% dos detritos reaproveitáveis acabam indo para aterros
QUEM VÊ os milhares de
garrafas plásticas de
refrigerante a entupir
rios e córregos pelo
Brasil afora, neste verão incomumente chuvoso, não imagina que
o país ostente o segundo maior
índice de reciclagem do material.
Com 54,8% alcançados em 2008,
só fica atrás do Japão (69,2%). A
União Europeia, com toda sua
tradição ecológica, reaproveita
meros 46%.
No que respeita às latas de alumínio, recicla-se por aqui mais
de 90% do total em circulação,
recorde mundial. Tal desempenho se explica por vários fatores,
a principiar pelo alto gasto de
energia na fabricação do alumínio e consequente vantagem
econômica da reutilização.
O sucesso do alumínio decorre
também, por outro lado, da
abundância de brasileiros pobres, para os quais os centavos
angariados com latinhas podem
pesar no orçamento familiar. O
trabalho informal e precário daqueles que antes se chamavam
de "garrafeiros" evoluiu, a partir
de experiências pioneiras como a
de Belo Horizonte, para cooperativas de catadores integradas
num esquema empresarial de
coleta seletiva.
Calcula-se que 800 mil catadores trabalhem hoje nessas redes.
Graças a eles, 12% do lixo urbano
no Brasil termina reciclado. São
6,4 milhões de toneladas de um
total aproximado de 55 milhões,
segundo estimativa para 2007 da
organização Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre). Em 2008, uma população
de 26 milhões de pessoas tinha
acesso à coleta seletiva de lixo reciclável em 405 municípios (em
1994, eram só 81 cidades).
Na cidade de São Paulo, 6 milhões de 11 milhões de habitantes
contam com coleta seletiva na
porta de casa. Acesso ao serviço,
contudo, não garante que ele seja
eficiente. Estima-se que só 7%
das 17 mil toneladas diárias de lixo domiciliar paulistano acabem
de fato na reciclagem.
Nem todos os paulistanos, decerto, chegaram já à consciência
de que separar o lixo reciclável
beneficia a todos. Na pior das hipóteses, a reutilização reduz a
necessidade de criar mais aterros sanitários e o entupimento
de bueiros, galerias pluviais e
córregos canalizados, uma das
razões das enchentes. Mas há
ineficiências mais urgentes a
combater, que podem e devem
ser enfrentadas pela prefeitura.
Reportagem da Folha revelou
que mais de um terço (35%) do
lixo reciclável separado pelos
moradores acaba nos aterros sanitários, onde se mistura com
dejetos inaproveitáveis e poluentes. O principal motivo do
desperdício é técnico: caminhões utilizados por empresas
coletoras fazem prensagem excessiva dos resíduos, para carregar mais peso em cada viagem.
Ora, essa prática impossibilita
sua separação nas cooperativas
(por exemplo, plásticos de metais). Compete à prefeitura exigir das concessionárias Loga e
Ecourbis o cumprimento da
norma de não carregar os veículos com mais de três toneladas.
Como cidade mais rica do país,
São Paulo tem de dar o exemplo.
Precisa contribuir -inclusive
por sua escala- para elevar o
baixo percentual brasileiro de
reciclagem dos detritos urbanos.
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