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FERNANDO RODRIGUES
Zumbis
BRASÍLIA - Itamar Franco anunciou nesta semana sua pretensão de
ser candidato ao Senado por Minas
Gerais. Não será o primeiro ex-presidente a voltar para a política disputando uma eleição.
José Sarney saiu da Presidência e
mudou seu domicílio eleitoral do
Maranhão para o Amapá. Desde
1990, elege-se sucessivamente senador com o voto dos amapaenses.
Fernando Collor enfrentou o oblívio com seu banimento eleitoral depois do impeachment, em 1992.
Mas voltou como senador eleito por
Alagoas, em 2006.
Essas carreiras eleitorais pós-Planalto são exemplos acabados de
atraso institucional. Há algo errado
quando um país não sabe o que fazer com seus ex-presidentes.
Em breve haverá mais um. Lula já
é citado como candidato a um terceiro mandato na disputa de 2014.
Fernando Henrique Cardoso absteve-se da política eleitoral, embora
sua saída tenha ficado longe da perfeição. Quando estava no poder, o
tucano fez uma reunião com grandes empresas no Alvorada e pediu
apoio financeiro para sua futura
ONG, o instituto FHC.
Ao anunciar sua decisão de concorrer ao Senado, Itamar Franco
volta a escancarar o problema. Ele
já foi nomeado embaixador sem ter
nenhum interesse em diplomacia
externa. Mais recentemente, ocupou uma sinecura no Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais.
Outro dia, num esforço para ajudar o Haiti, devastado pelo terremoto, apareceram juntos os ex-presidentes dos EUA Bill Clinton e
George W. Bush -adversários na
política norte-americana. No Brasil, nunca houve uma reunião de ex-ocupantes do Palácio do Planalto
em momentos de necessidade.
Não é fácil encontrar uma saída
institucional. Mas deixar como está
seria desistir de aprimorar o modelo de democracia no país. Não faz
sentido ex-presidentes vagando como zumbis à caça de ocupação depois de terem comandado o país.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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