São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2011

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CLÓVIS ROSSI

A grande desconexão

DAVOS - Pego numa das estantes do Centro de Congressos de Davos, sede do encontro anual do Fórum Econômico Mundial, a revista "Trends", que trata de negócios no mundo árabe.
Atraiu-me o título: "Nova alvorada". Estava certo de que tratava da alvorada democrática que se esboça em países árabes. Baita engano. A capa é para explicar "como o Oriente Médio está conduzindo o mundo para fora da recessão". Nem o governo Lula era tão ufanista.
Há também um texto sobre o Egito. Sobre a crise? Nada. É sobre as riquezas não exploradas.
O mais inacreditável é um "slash" no alto da capa: trata de como "a primeira-dama de um país norte-africano está mostrando o caminho com os direitos da mulher". Nome da primeira-dama: Leila Ben Ali, mulher do presidente deposto da Tunísia, atingido pela corrupção desenfreada liderada pela família de Leila.
A revista é um retrato acabado da desconexão entre o mundo de negócios, ao qual obviamente ela se dirige, e a rua. As elites árabes parecem viver numa bolha, completamente afastadas da realidade de seus cidadãos.
Mas não são só as elites árabes. O mundo empresarial demonstra, pelo menos aqui em Davos, uma preocupação obsessiva com a criação de um bom ambiente para os negócios, mas escassa atenção para criar um bom ambiente para seus empregados (e, acima de tudo, para os desempregados).
Claro que é sempre possível dizer que, se os negócios vão bem, o mundo vai bem, os assalariados ganham, todo mundo no fim das contas recebe sua cota.
Não é o que demonstra o colossal número de pobres e miseráveis do planeta nem o fato de que a economia americana voltou a crescer bem, mas o desemprego estacionou perto dos 10%.
O mundo seria mais saudável se essa desconexão fosse sanada.

crossi@uol.com.br


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