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CLÓVIS ROSSI
O elefante que você não viu
SÃO PAULO - Não é que havia um
baita elefante na sua sala e você
conviveu anos com ele sem se dar
conta? Você, no caso, somos todos.
Somos os jornalistas, são os acadêmicos, especialmente os economistas, são as autoridades (as atuais, as
anteriores e as anteriores das anteriores), as instituições internacionais, as ONGs, os sindicatos.
Todo esse mundão de gente falou, escreveu, analisou, palpitou, legislou, atuou (ou deixou de fazê-lo)
em função de um país que não existia, se estiver correta a pesquisa do
IBGE com a nova metodologia para
medir o tamanho do Brasil.
O elefante na sala tem o fenomenal peso de R$ 300 bilhões (valor a
mais entre o PIB do Brasil pela velha metodologia e pela nova).
Ou seja, convivemos todos, sem
notá-las, com o equivalente a 937
Varigs, com todos os seus aviões, espaços nos aeroportos, hangares, tripulantes, mecânicos, o diabo, se se
aplicar o valor pago pela Gol para ficar com a aérea.
De repente, o IBGE mostra o elefante e todo mundo olha e diz: "Ah,
sim, temos que repensar tudo".
Ninguém percebeu nada antes?
É verdade que tem gente que desconfia do tamanho do elefante
apontado pelo IBGE. A Confederação da Agricultura e Pecuária do
Brasil, por exemplo, diz que o seu
elefante específico encolheu, quando o do IBGE engordou (e muito).
Como é que dá para saber se é para acreditar ou não -e em quem?
Sempre fui cético em relação às instituições oficias (e até às não-oficiais). Os números do novo PIB só
tornam obrigatório ser ainda mais
cético e desconfiado.
Se o Banco Central só agora ficou
sabendo que o Brasil é R$ 300 bilhões mais rico, como posso acreditar na sua previsão de que o país ficará neste ano 4,1% ainda mais rico? Não viu o elefante que havia na
sala durante anos, vai conseguir ver
o que ainda não foi produzido?
E o presidente Lula vai dizer
"nunca neste país" ou "nunca naquele país"?
crossi@uol.com.br
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