São Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2007

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CLÓVIS ROSSI

O elefante que você não viu

SÃO PAULO - Não é que havia um baita elefante na sua sala e você conviveu anos com ele sem se dar conta? Você, no caso, somos todos.
Somos os jornalistas, são os acadêmicos, especialmente os economistas, são as autoridades (as atuais, as anteriores e as anteriores das anteriores), as instituições internacionais, as ONGs, os sindicatos.
Todo esse mundão de gente falou, escreveu, analisou, palpitou, legislou, atuou (ou deixou de fazê-lo) em função de um país que não existia, se estiver correta a pesquisa do IBGE com a nova metodologia para medir o tamanho do Brasil.
O elefante na sala tem o fenomenal peso de R$ 300 bilhões (valor a mais entre o PIB do Brasil pela velha metodologia e pela nova). Ou seja, convivemos todos, sem notá-las, com o equivalente a 937 Varigs, com todos os seus aviões, espaços nos aeroportos, hangares, tripulantes, mecânicos, o diabo, se se aplicar o valor pago pela Gol para ficar com a aérea.
De repente, o IBGE mostra o elefante e todo mundo olha e diz: "Ah, sim, temos que repensar tudo". Ninguém percebeu nada antes?
É verdade que tem gente que desconfia do tamanho do elefante apontado pelo IBGE. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, por exemplo, diz que o seu elefante específico encolheu, quando o do IBGE engordou (e muito).
Como é que dá para saber se é para acreditar ou não -e em quem? Sempre fui cético em relação às instituições oficias (e até às não-oficiais). Os números do novo PIB só tornam obrigatório ser ainda mais cético e desconfiado.
Se o Banco Central só agora ficou sabendo que o Brasil é R$ 300 bilhões mais rico, como posso acreditar na sua previsão de que o país ficará neste ano 4,1% ainda mais rico? Não viu o elefante que havia na sala durante anos, vai conseguir ver o que ainda não foi produzido?
E o presidente Lula vai dizer "nunca neste país" ou "nunca naquele país"?


crossi@uol.com.br

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