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JOSÉ SARNEY
Hora de crescer: ZPE
VISITEI a China pela primeira vez em 1967. Era o tempo
do obscurantismo da Revolução Cultural, de triste memória.
Voltei a visitá-la em 1988, já como
presidente. A última viagem foi em
1994. Vi nesse espaço de 30 anos as
transformações que ocorreram e
acompanho a explosão recente.
Voltei da China convencido de
que o milagre chinês vinha de um
instrumento que eles souberam
utilizar com grande eficiência: as
Zonas de Processamento de Exportação, as ZPEs. São enclaves de
livre mercado de produtos destinados exclusivamente à venda para o
exterior. Funcionam como plataformas de desenvolvimento. Elas
alavancaram o mercado interno,
que passou a ter demanda crescente de insumos. Possibilitou assim
que pequenas e médias empresas
"exportassem" sem burocracias e
sem as tarifas irremovíveis da distância.
Para essa idéia, mobilizei o governo em torno de uma estratégia
visando implantar no Brasil o modelo chinês das ZPEs. Com o decreto 2.452, de julho de 88, iniciei a
criação de "zonas de livre comércio, sob controle aduaneiro, voltadas para a produção de bens destinados à exportação, fortalecer o
balanço de pagamentos, reduzir
desequilíbrios regionais e promover a difusão tecnológica e o desenvolvimento econômico e social do
país". Como no caso da Norte-Sul,
o mundo veio abaixo. Um setor pequeno, mas representativo, da protegida indústria nacional apregoou
que eu desejava destruir o parque
industrial brasileiro.
Àquele tempo, a China tinha 15
ZPEs. Sua economia era igual a do
Brasil. Hoje, a China tem 167, que
movimentam US$ 1,5 trilhão e são
responsáveis por 60% do PIB. Não
tive força política para vencer a resistência. A verdade é que, se tivéssemos marchado naquela direção,
hoje seríamos iguais à China. Venceu o tipo de capitalismo que faz
parte de uma pequena, mas poderosa e atuante, mentalidade de capitalismo sem risco, de mercado
sem concorrência e com acordo de
preços, além de subsídios e proteção. Lembremos que existia a lei de
similar nacional e de proteção à indústria eletrônica.
Não adianta chorar o leite derramado. O mundo cresceu e cresce
graças ao avanço do comércio internacional. Ele é a alavanca.
Os EUA têm 157 ZPEs e 253
"subzones" de exportação. A Europa, 51, o Japão, os Tigres Asiáticos
(Coréia, Cingapura, Malásia) todos
estão nessa. O Brasil? "ZERO", isto
mesmo, 0. E agora que passa na
Câmara essa grande lei libertadora
das ZPEs, de novo os mesmos comandam a reação, o atraso do Brasil. FHC clamava: "Exportar ou
morrer"; Lula, "exportar é a solução". O caminho do crescimento
está aí: ZPE. PAC e ZPE, novos horizontes para o Brasil.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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