São Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2007

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JOSÉ SARNEY

Hora de crescer: ZPE

VISITEI a China pela primeira vez em 1967. Era o tempo do obscurantismo da Revolução Cultural, de triste memória.
Voltei a visitá-la em 1988, já como presidente. A última viagem foi em 1994. Vi nesse espaço de 30 anos as transformações que ocorreram e acompanho a explosão recente.
Voltei da China convencido de que o milagre chinês vinha de um instrumento que eles souberam utilizar com grande eficiência: as Zonas de Processamento de Exportação, as ZPEs. São enclaves de livre mercado de produtos destinados exclusivamente à venda para o exterior. Funcionam como plataformas de desenvolvimento. Elas alavancaram o mercado interno, que passou a ter demanda crescente de insumos. Possibilitou assim que pequenas e médias empresas "exportassem" sem burocracias e sem as tarifas irremovíveis da distância.
Para essa idéia, mobilizei o governo em torno de uma estratégia visando implantar no Brasil o modelo chinês das ZPEs. Com o decreto 2.452, de julho de 88, iniciei a criação de "zonas de livre comércio, sob controle aduaneiro, voltadas para a produção de bens destinados à exportação, fortalecer o balanço de pagamentos, reduzir desequilíbrios regionais e promover a difusão tecnológica e o desenvolvimento econômico e social do país". Como no caso da Norte-Sul, o mundo veio abaixo. Um setor pequeno, mas representativo, da protegida indústria nacional apregoou que eu desejava destruir o parque industrial brasileiro.
Àquele tempo, a China tinha 15 ZPEs. Sua economia era igual a do Brasil. Hoje, a China tem 167, que movimentam US$ 1,5 trilhão e são responsáveis por 60% do PIB. Não tive força política para vencer a resistência. A verdade é que, se tivéssemos marchado naquela direção, hoje seríamos iguais à China. Venceu o tipo de capitalismo que faz parte de uma pequena, mas poderosa e atuante, mentalidade de capitalismo sem risco, de mercado sem concorrência e com acordo de preços, além de subsídios e proteção. Lembremos que existia a lei de similar nacional e de proteção à indústria eletrônica.
Não adianta chorar o leite derramado. O mundo cresceu e cresce graças ao avanço do comércio internacional. Ele é a alavanca.
Os EUA têm 157 ZPEs e 253 "subzones" de exportação. A Europa, 51, o Japão, os Tigres Asiáticos (Coréia, Cingapura, Malásia) todos estão nessa. O Brasil? "ZERO", isto mesmo, 0. E agora que passa na Câmara essa grande lei libertadora das ZPEs, de novo os mesmos comandam a reação, o atraso do Brasil. FHC clamava: "Exportar ou morrer"; Lula, "exportar é a solução". O caminho do crescimento está aí: ZPE. PAC e ZPE, novos horizontes para o Brasil.


jose-sarney@uol.com.br

JOSÉ SARNEY
escreve às sextas-feiras nesta coluna.


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