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CLOVIS ROSSI
Quem se rende ganha
SÃO PAULO - O presidente Lula
fez anteontem uma incompleta
descrição de como foi a "metamorfose" de que ele seria uma manifestação "ambulante". Disse que, ao
chegar ao poder, precisou "construir alianças, parcerias, para diminuir os ímpetos daqueles que não
se conformam com a ascensão dos
pobres".
É uma maneira pouco precisa de
se referir ao fato de que jogou no lixo o que ele próprio definiu como
"bravatas", mais precisamente tudo
o que pregava até ser eleito. Ou, se
se preferir seu mais fiel amigo, o assessor especial Marco Aurélio Garcia, o comando da economia foi entregue a "conservadores, pessoas
com vínculos históricos com círculos financeiros, com o aparato econômico de governos anteriores"
(depoimento para duas jornalistas
inglesas em livro sobre a crise do
mensalão de 2005).
Seja qual for o juízo de valor que
se faça sobre a "metamorfose", o fato é que dá resultados, especialmente à luz do que está acontecendo em países vizinhos.
Todos os presidentes que se mantiveram fiéis ao "script" original e
não se renderam aos conservadores
estão tendo ou tiveram problemas
mais ou menos sérios de governabilidade. Refiro-me ao casal Kirchner, a Evo Morales e a Hugo Chávez. Nem estou emitindo juízo de
valor sobre o "script" original. Só
descrevendo fatos.
Falta entrar na roda apenas o
equatoriano Rafael Correa, talvez
por falta de tempo, talvez por outro
fator qualquer.
Note-se que o nicaragüense Daniel Ortega, que já foi o mais revolucionário de todos os citados, rendeu-se a uma aliança com gente que
Ciro Gomes não se contentaria em
chamar apenas de "escória", tal o
nível próximo do esgoto. E está, até
agora, também tranqüilo.
Posto de outra forma: a governabilidade passa hoje mais pelos mercados que pelos partidos/Parlamentos/quartéis.
crossi@uol.com.br
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