São Paulo, domingo, 30 de março de 2008

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CLOVIS ROSSI

Quem se rende ganha

SÃO PAULO - O presidente Lula fez anteontem uma incompleta descrição de como foi a "metamorfose" de que ele seria uma manifestação "ambulante". Disse que, ao chegar ao poder, precisou "construir alianças, parcerias, para diminuir os ímpetos daqueles que não se conformam com a ascensão dos pobres".
É uma maneira pouco precisa de se referir ao fato de que jogou no lixo o que ele próprio definiu como "bravatas", mais precisamente tudo o que pregava até ser eleito. Ou, se se preferir seu mais fiel amigo, o assessor especial Marco Aurélio Garcia, o comando da economia foi entregue a "conservadores, pessoas com vínculos históricos com círculos financeiros, com o aparato econômico de governos anteriores" (depoimento para duas jornalistas inglesas em livro sobre a crise do mensalão de 2005).
Seja qual for o juízo de valor que se faça sobre a "metamorfose", o fato é que dá resultados, especialmente à luz do que está acontecendo em países vizinhos.
Todos os presidentes que se mantiveram fiéis ao "script" original e não se renderam aos conservadores estão tendo ou tiveram problemas mais ou menos sérios de governabilidade. Refiro-me ao casal Kirchner, a Evo Morales e a Hugo Chávez. Nem estou emitindo juízo de valor sobre o "script" original. Só descrevendo fatos.
Falta entrar na roda apenas o equatoriano Rafael Correa, talvez por falta de tempo, talvez por outro fator qualquer.
Note-se que o nicaragüense Daniel Ortega, que já foi o mais revolucionário de todos os citados, rendeu-se a uma aliança com gente que Ciro Gomes não se contentaria em chamar apenas de "escória", tal o nível próximo do esgoto. E está, até agora, também tranqüilo.
Posto de outra forma: a governabilidade passa hoje mais pelos mercados que pelos partidos/Parlamentos/quartéis.

crossi@uol.com.br


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