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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Isenção de
IR para especuladores
AS NOTÍCIAS sobre a crise financeira provocada pela
festa do "sub-prime" têm
nos levado a uma ciclotimia.
Aceita-se que a volatilidade é
uma das características intrínsecas
dos mercados de títulos e de commodities. Mas há os problemas
reais e de longa duração. Ninguém
sabe exatamente o buraco do rombo causado pela inadimplência dos
que tomaram empréstimos e não
conseguiram pagar nos Estados
Unidos. Ninguém sabe, tampouco,
quantos e quais os bancos serão
afetados.
As autoridades brasileiras continuam dizendo que, na pior das hipóteses, sofreremos alguns respingos. O que também é incerto.
Há, porém, um aspecto que fica
cada vez mais claro. O Brasil entrou numa verdadeira armadilha
financeira. Nossa taxa de juros é
tão alta que o país vem sendo considerado como o maior cassino internacional.
Quem diz isso é o economista-chefe da Unctad e ex-secretário de
finanças da Alemanha, Heiner
Flassbeck ("Brasil está sendo vítima de cassino internacional", "O
Estado de S. Paulo", 21/3).
A razão dessa triste situação é
bem conhecida.
Especuladores de grosso calibre
tomam dinheiro emprestado em
países onde a taxa de juros reais é
de 2% ou de 3% -ou até menos, como é o caso do Japão, onde a taxa é
de 0%-, para comprar, no Brasil,
títulos públicos que, com toda a segurança e isenção de Imposto de
Renda, geram lucros ao redor de
6,5% reais. É um maná.
Há especuladores que não têm
escrúpulos de dizer que vêm lucrando bilhões de dólares na ciranda financeira do Brasil. Ao primeiro espirro do presidente Lula, marcham em retirada, nada deixando
para trás a não ser uma maior dívida interna.
Juntando-se o anúncio da ata do
Copom, que insinua nova elevação
dos juros, com o derretimento do
dólar no exterior e a derrubada dos
juros nos Estados Unidos, os especuladores já ligaram seus motores
para aqui chegar com uma enxurrada de dólares, o que deprimirá
ainda mais a taxa de câmbio.
Estamos no meio de uma cilada.
Heiner Flassbeck alerta, com toda
a razão, que essa situação não é
sustentável para as exportações
brasileiras no médio prazo. Muitos
setores já estão sofrendo com o
câmbio atual, e isso pode se generalizar com futuras quedas.
Não está na hora de suspender a
isenção de Imposto de Renda para
quem vem aqui especular?
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
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domingos nesta coluna.
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