São Paulo, segunda-feira, 30 de março de 2009

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

É tudo verdade

SÃO PAULO - Ministro da Justiça até anteontem, Márcio Thomaz Bastos foi contratado como advogado pela Camargo Corrêa, contra a qual a Polícia Federal, que Bastos até anteontem chefiava, levantou indícios de tenebrosas transações.
Quem não se lembra do vaivém dos intelectuais-banqueiros do tucanato, transitando à vontade entre o Banco Central e a banca privada? Continuamos em casa.
No caso do ministro-advogado, há um curto-circuito que agrava a incômoda sensação de promiscuidade: na Justiça, Thomaz Bastos atuava, sobretudo no mensalão, como advogado de defesa do governo; agora, como advogado da empreiteira encrencada, dá a impressão de atender à convocação para uma missão de Estado.
Há outras estranhezas nesse caso. A presença de duas secretárias entre os dez indiciados sugere que gente mais graúda foi, está sendo ou será preservada.
E como se viesse reforçar que a culpa é do mordomo, o juiz De Sanctis se apressou em dizer que a operação não investiga políticos, mas pessoas da iniciativa privada. O que ele diz não para em pé.
Flagrados de calça curta, DEM e PSDB estiveram quase mais empenhados em apontar a estranha ausência do PT na lista negra das doações do que em defender a origem lícita do dinheiro que embolsaram. De resto, correram para a imprensa com recibos que a Justiça Eleitoral ainda não viu. Vamos aguardar.
Ninguém se salva, mas todos se salvarão -essa é a mensagem.
Sorte da Fiesp, flagrada intermediando capim da Camargo para políticos, o que deixa a entidade patronal sob suspeição de atuar como um entreposto do caixa 2 no país.
Toda vez que um escândalo descortina para o público o jogo político como ele é, alguém vem logo lembrar que as regras de financiamento das campanhas estão na raiz da corrupção. Bobagem.
O cassino eleitoral não é a causa, mas um sintoma do sequestro do Estado por interesses privados.


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