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CARLOS HEITOR CONY
Fim de caso
RIO DE JANEIRO - Ainda é tempo de comentar o caso Nardoni, não
tanto pelo caso em si, mas pelo que
a bula dos remédios chama de "efeitos colaterais". O clamor público
contra o casal finalmente condenado criou um fato paralelo e talvez
tenha impressionado os jurados,
mas a verdade é que o crime não teve outra teoria, não criou atalhos,
resumiu-se à participação do pai e
da madrasta na morte da menina
Isabella.
Dificilmente surgirão fatos novos
que revoguem a sentença. A defesa
poderá arguir falhas na condução
do júri, mas o crime em si está esclarecido e punido. A tese de que o
clamor público foi decisivo para o
resultado final não tem validade
jurídica.
É bem verdade que a mídia também colaborou para a formação
deste clamor, que chegou a exageros vexatórios, como a agressão ao
advogado de defesa, que ali estava
cumprindo o seu dever. A emoção
popular poucas vezes foi tão aguçada como neste caso, um caso que
teve tudo para ser considerado
hediondo.
Também exagerada a euforia pelo resultado. Ficou a impressão de
que finalmente a Justiça funciona
neste país -o que não é verdade.
Centenas de presos são mal julgados e cumprem pena até que um
acaso qualquer proceda à revisão da
sentença. Isso sem falar nos milhares de criminosos que continuam
soltos, alguns deles confessos, como o jornalista que matou a namorada e continua em liberdade, esperando algum tipo de prescrição que
o livre da pena ou a atenue.
De qualquer forma, no caso Nardoni pode-se dizer que a Justiça foi
feita. Falta a confissão dos réus, o
que não chega a ser um dado perturbador. A exaltação popular foi
realmente açulada pela mídia, mas
o caso exigia uma cobertura minuciosa. Todos fizeram o que deveria
ser feito, menos os dois criminosos.
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