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ABERRAÇÕES MUNICIPAIS
A sensação de desconforto que a
Câmara Municipal de São Paulo provoca na população paulistana não se
resume à aberrante circunstância de
um numeroso grupo de vereadores
governistas chefiar a quadrilha que
generalizou a corrupção nas Administrações Regionais. É o que indica,
de forma cada vez mais nítida, o andamento da CPI da propina.
Há também outras anomalias que
reportagens publicadas pela Folha
nos dois últimos domingos relatam
em detalhes. De um lado, cada vereador dispõe para a contratação de assessores de verbas 4,6 vezes superiores às de um deputado federal. O nepotismo alcança nada menos que 23
dos 55 vereadores, um escândalo
inaceitável. Um deles chegou a contratar cinco parentes -dois filhos,
dois irmãos e um genro-, enquanto
outro evocou a orfandade de um sobrinho, já adulto, para obter regalias
à custa do dinheiro público.
De outro lado, e sob a responsabilidade da administração da Câmara,
há salários desproporcionalmente
mais elevados que os praticados por
qualquer setor da iniciativa privada.
Eles privilegiam -com o dinheiro do
contribuinte- também funcionários
subalternos, a exemplo dos R$ 2.271
mensais para ascensoristas e até engraxates, o que é estranho.
Registre-se que a cultura da impunidade tem como contrapartida a
inexistência de cobrança eleitoral regular. Pesquisa do Datafolha revelou
que 72% dos eleitores paulistanos
não se lembram nem sequer de seu
voto para vereador em 1996.
A Câmara paulistana não é exceção
a uma regra que infelizmente está generalizada em outros legislativos do
país. O princípio da independência
entre os Poderes, de resto incontestável, serviu de pretexto para que parlamentares passassem a conceber o
orçamento de suas Casas legislativas
como uma questão interna, corporativa, resguardada por sigilo vergonhoso. Espera-se que o atual empenho moralizador que vem ganhando
fôlego na cidade alcance também essas aberrações.
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