São Paulo, sexta-feira, 30 de abril de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Farinha da mesma desculpa

LONDRES - Cada vez menos se entende o governo Lula. Nem maquiavélico consegue ser. Não era Maquiavel quem dizia que o bem deve ser feito aos poucos, mas o mal deve ser feito de uma só vez? Bom, no caso do salário mínimo, Lula fez justamente o contrário: sabia que ia fazer o mal (ou seja, dar um resultado insatisfatório), mas, ainda assim, prolongou a agonia por vários dias.
Para que toda essa encenação de reuniões daqui e dali se a equipe econômica já havia dito que mais que R$ 260 não era possível? O presidente tem alternativas à mão para desafiar a equipe econômica? Não tem. Então era melhor anunciar logo o anêmico reajuste. O pessoal teria mais tempo para juntar-se ao Zé Simão na tentativa de descobrir onde investir ou gastar tanto dinheiro adicional.
Ironias (justificadas) à parte, vale a pena visitar as informações sobre salário mínimo da OIT (Organização Internacional do Trabalho), em cuja sede, em Genebra, Lula foi recebido no ano passado por seus ex-pares do sindicalismo internacional como aquele que "chegou lá".
Conforme Carolina Glycerio (BBC Brasil), "o salário mínimo brasileiro deveria ser reajustado para, pelo menos, R$ 350, de acordo com os padrões da OIT".
As contas são de François Eyraud, economista da instituição, para quem o piso salarial deveria estar entre 40% e 60% do salário médio do país para se adequar aos padrões da OIT. No Brasil, o novo mínimo de R$ 260 equivale a magros 29,8% do salário médio tupiniquim.
Suponho que a desculpa de plantão para explicar mais essa frustração será a de que um aumento maior do mínimo arrebentaria a Previdência (o presidente já antecipou essa explicação há dois dias).
Admitindo, só para argumentar, que seja verdade, é uma verdade antiga, que vem, pelo menos, desde o primeiro governo pós-redemocratização (o de José Sarney). O PT e Lula gritavam que era balela. Agora, são farinha da mesma desculpa.


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