São Paulo, sexta-feira, 30 de abril de 2004

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JOSÉ SARNEY

Rata japonesa sem pai

Os japoneses são inventores geniais. A eles devemos muitas das comodidades que facilitam a nossa vida, a começar pelos radinhos de pilha de que eles foram pioneiros, que disseminaram mundo afora e que se tornou símbolo de modernidade. Tivemos mesmo um presidente, o Médici, que ligou sua imagem ao rádio no ouvido, durante as partidas de futebol.
Os japoneses são exímios diminuidores das coisas, a chamada miniaturização, responsável pela diminuição no consumo de matérias-primas. Com isso, eles fizeram incríveis coisas pequenas, como relógios, máquinas fotográficas, aparelhos de som, computadores e um diabo grande de "gadgets". Hoje, temos um monte de objetos que não existiam há 50 anos. E haja nomes novos para tantas coisas novas.
Nesse terreno, uma das suas criações são os bonsais. Aquelas arvorezinhas pequenas, delicadas, belas e elegantes. Seus jardins, que obras de extraordinária beleza! Eu, extasiado por um deles na cidade velha de Nara, no Japão, parei e perguntei ao jardineiro como fazer coisas tão belas. A minha pergunta nada tinha de indagação e tudo de exclamação. Ele respondeu, naquele jeito oriental: "é... hai..... tem dois 2.000 anos de trato!"
Tudo isso para falar numa descoberta de alguns cientistas japoneses que me deixou muito preocupado. É que estes, agora, estão noutra área querendo fazer traquinagens. Noticiaram os jornais de todo o mundo que um grupo da Universidade de Tóquio anunciou o nascimento do primeiro mamífero que é filho de duas mães e não tem pai. Vejam que coisa complicada para entrar em nossas cabeças: nascer sem ter pai. Parece até aquela adivinhação, tão comum em nossa infância para testar inteligência, em que se perguntava: "Tu és meu filho, mas não sou teu pai. Quem sou?". E a resposta vinha logo: "A mãe". A vigorar a descoberta japonesa, ao longo dos séculos essa pergunta desaparecerá. Todos serão mães.
A técnica foi aplicada a ratas, mas abre caminho para aplicá-la às mulheres. E assim, com essa descoberta, os homens não servirão para mais nada. Serão matéria descartável no Universo. O que me intriga é que a pesquisa foi feita por homens sem perguntar às mulheres se elas concordam com a fórmula que Deus fez e que funcionou tão bem até agora, com amor, beleza e mais algumas coisas que fazem a felicidade.
Certamente, nós não temos muito orgulho de alguns homens. Mas esses cientistas japoneses, por exemplo, não vão querer acabar-nos por Truman ter lançado a bomba atômica sobre Hiroshima. Nem nós podemos pagar pela presença de Bush nessa matança que promove em Fallujah. Nem pela arrogância de Sharon, que parece ser um judeu contra os judeus pela imagem que projeta sobre sua gente, que não a merece e tem um lugar na história da humanidade.
No mais, há uma injustiça na descoberta. É que ela deseja acabar com os homens na suposição de que os homens todos têm a cabeça desses cientistas que, não tendo mais nada a fazer, fazem pesquisas bestas, sem finalidade, sem utilidade e querendo atirar-nos -homens- fora do fogo.
Vamos à conclusão com a história que se conta entre um alemão e um português. O alemão disse ao português: "Na Alemanha, todos somos machos!". E o português respondeu: "Pois em Portugal, metade é homem, metade é mulher e estamos nos dando muito bem!".
A anedota é velha, mas atual.


José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.


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