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CLÓVIS ROSSI
De palavrões à derrota
SÃO PAULO - Que bom que Leonel Brizola já morreu.
Não creio que o coração do velho
e simpático caudilho resistisse às
novidades. Para ficar apenas na
mais recente: recorde na remessa
de lucros para o exterior.
Ajuda memória: um dos cavalos-de-batalha em torno do qual girou o
golpe de 1964 era justamente "remessa de lucros", expressão que,
para a esquerda, significava a espoliação do tal de povo brasileiro pelos polvos multinacionais. Brizola
era um dos campeões da campanha
contra a remessa de lucros.
Mesmo depois do golpe, do exílio,
da anistia, Brizola era um obcecado
com o que chamava de "perdas internacionais". Não há repórter que
tenha acompanhado campanhas
eleitorais de que participou Brizola
que não ironizasse sua contínua
pregação contra as tais perdas. É
verdade que o rótulo englobava
também os termos de troca, o fato
de que os países em desenvolvimento recebiam pouco pelas matérias primas que exportavam e pagavam muito pelos produtos acabados que compravam.
Hoje, matéria-prima virou commodity, e algumas delas valem mais
do que produtos acabados.
O que chama a atenção agora não
é que se bata o recorde de remessa
de lucros, natural em se considerando o aumento do investimento
externo no Brasil. Mais investimento, mais lucro, mais remessa.
Chama a atenção que ninguém
mais reclame ou critique, mesmo
fazendo parte do governo gente do
PDT de Brizola, do PC do B, do PSB
(de Miguel Arraes, outros dos expoentes da gritaria de antanho contra a "espoliação").
Lucro já era palavra feia para eles.
Lucro recorde era pior que xingar a
mãe. Remessa recorde de lucros,
então, sei lá como chamariam.
Agora, nenhuma palavra de ninguém. Sinal de que a esquerda perdeu tudo, até a batalha cultural pelo
uso (ou desuso) de expressões que
lhe foram caras.
crossi@uol.com.br
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