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ANTONIO DELFIM NETTO
Vamos acordar?
UMA VISITA à Argentina,
mesmo rápida, é sempre
muito agradável.
Ela vive um ciclo de crescimento
(8,5% em média 2006/07) e se espera qualquer coisa próxima de 7%
em 2008, com um robusto crescimento industrial (mais de 9%).
Graças aos aumentos dos preços
das suas "commodities" de exportação (soja, milho e trigo), esta tem
crescido fortemente (17% em
2006/07) o tem permitido um aumento das importações (25%) com
significativos saldos comercial e
em conta corrente. Há sérias dúvidas (entre os acadêmicos argentinos) sobre a continuidade desse
quadro. Se a situação externa se
modificar e a taxa de crescimento
for reduzida, poderemos assistir a
um novo círculo fiscal vicioso piorando ainda mais a já grave situação inflacionária. Sobre esta há sérios problemas: enquanto o governo a estima em 8%, institutos privados (de alta credibilidade) a estimam em 20%. Isso torna muito difícil saber qual o papel exercido pela taxa cambial e a taxa de juros
reais sobre a magnífica taxa de
crescimento.
O que realmente preocupa é que:
1º) o bom resultado fiscal deriva do
crescimento e é apoiado na tributação do setor externo o que pode
sofrer um colapso e 2º) as reivindicações salariais andam entre 20% e
30% (depois dos salários terem
crescido mais de 20% em 2006/07). O futuro certamente é opaco e
tudo pode acontecer.
Há, entretanto, um aspecto positivo indiscutível na economia argentina que terá enormes conseqüências no longo prazo para o seu
crescimento. Todos sabemos que a
Tecnologia da Informação (TI),
por suas possibilidades de múltiplos usos, é daquelas que produzem "revoluções industriais" (no
caso, ainda mais de serviços).
O mercado mundial de TI de
mais de um trilhão de dólares (2/3
do PIB brasileiro) está migrando,
por muitos motivos, para os países
emergentes. Para hospedá-la o
Brasil está mais do que preparado,
mas continua aparvalhado.
Devido à invencível miopia fiscalista do nosso governo, temos sido
incapazes de acompanhar a tempo
e a hora, os estímulos que a Argentina (e o Chile, a China, a Colômbia,
as Filipinas, a Índia, a Rússia, o México e a República Tcheca!) tem
oferecido para atrair indústrias e
cérebros ligados ao setor.
Em conseqüência disso, nossas
indústrias (no estado da arte) e
nossos talentos (reconhecidos
mundialmente) têm migrado principalmente para a Argentina, tornando o Brasil dependente externo
da tecnologia que já domina. As
conseqüência desse imobilismo
para a nossa produtividade no longo prazo serão trágicas.
Vamos acordar?
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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