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ELIANE CANTANHÊDE
Frágil esboço de reação
BRASÍLIA - Cá para nós, Lula
nunca se identificou com o Congresso nem valorizou a sua importância. Mas setores do governo, à
frente o ministro da Justiça, Tarso
Genro, já se mobilizam para tentar
neutralizar o preocupante nível de
desgaste do Legislativo.
O desequilíbrio é crescente entre
os Poderes. O Executivo parece ainda mais forte do que já é naturalmente. O Judiciário está na boca do
povo, mas isso não impede que continue invadindo a seara legislativa.
Já o Legislativo despenca com castelões, casarões, empresas fantasmas, dinheiro e passagens voando.
Cria-se um círculo vicioso: os escândalos impedem a renovação de
agenda e de quadros, e a falta de renovação é uma fonte de escândalos.
O ambiente fica irrespirável, e o
medo bateu à porta.
Por isso, Tarso Genro foi ontem a
Sarney (Senado) e ambos têm linha
direta com Gilmar Mendes (STF) e
Michel Temer (Câmara) para segurar o Parlamento, um caminhão
desgovernado, ladeira abaixo. A
imagem já se cristalizou na opinião
pública. Eles querem evitar o torpor de quem tem um mínimo de
responsabilidade para esboçar reação. Com que arma? Acredite você
ou não, com a mesma de sempre: a
reforma política, além do tal Pacto
Republicando para resgatar a agenda parlamentar.
O operador da reação é o deputado Ibsen Pinheiro, jurando que
duas propostas estão a caminho do
consenso entre os partidos para
aprovação ainda neste semestre: financiamento público de campanha
(justamente para atrair "novos talentos") e o voto em lista (para democratizar as eleições).
Neste caso, o projeto tem um doce para os caciques, permitindo lista dupla, como no Uruguai: uma do
partido, outra das "bases". E tem
outro doce para os atuais parlamentares: eles teriam prioridade
numa lista submetida a convenção.
Parece muito pouco para segurar
o caminhão na banguela. Mais um
quebra-galho para um choque de
moralidade que nunca vem.
elianec@uol.com.br
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