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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Lula, the guy
SÃO PAULO - Lula, escolhido o líder mais influente do planeta pela
"Time"? Havia ontem uma intensa
discussão a respeito do lugar que foi
destinado ao presidente brasileiro.
Seria mesmo "o primeirão"? Ou era
apenas um dos "25 eleitos" pela publicação americana na categoria "líderes"? Conforme a própria revista
depois esclareceu, essa última interpretação é a mais correta.
Mas, afinal, que diferença faz? A
discussão serviu apenas para pôr
em relevo o aspecto frívolo e bizantino da própria lista. Ela diz menos
sobre as personalidades que supostamente ilumina do que sobre as taras e misérias de um mundo que
precisa a todo instante se reconhecer no espelho das celebridades que
fabrica. Todo ranking, no fundo, é
só uma forma de alimentar o bovarismo da sociedade do espetáculo.
A lista é tola, mas não significa
que seja "arbitrária". Já houve coisas muito piores. Na década de 70, a
própria "Time" fez uma relação de
quem seriam os 150 líderes mundiais no fim do milênio. Brasileiros?
Havia dois. Um era o então deputado Célio Borja. O outro, o ministro
da Agricultura de Ernesto Geisel,
Alysson Paulinelli. Sim, acredite.
O caso de Lula é evidentemente
distinto. Um líder operário que chega à Presidência de um país como o
Brasil e no final do mandato reúne
mais de 70% de aprovação popular.
No perfil que escreveu do petista,
o documentarista Michael Moore
diz platitudes, mas é certeiro ao
afirmar: "O que Lula quer para o
Brasil é o que nós costumávamos
chamar de sonho americano".
Um mundo de consumidores banais e felizes. Uma sociedade remediada na sua selvageria pela força
integradora do dinheiro. Do socialismo, nem o cadáver. Esse é o horizonte em que se movem Lula e sua
utopia mundana. Moore viu o que
muito petista ainda não entendeu.
Pelos prêmios já acumulados e
pelo conjunto da obra, a "Time" deveria ter incluído Lula na lista dos
"artistas". E Dunga talvez esteja
pensando se não há um lugarzinho
para "o cara" na sua seleção.
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