São Paulo, sábado, 30 de abril de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

TENDÊNCIAS/DEBATES

É possível conciliar inflação sob controle e crescimento econômico de 4% no ano?

NÃO

Crescer menos hoje, mais amanhã

ANDREI SPACOV

Vale a pena perseguir o centro da meta de inflação para 2012 de forma estrita e inegociável, mesmo que isso incorra num crescimento baixo no curto prazo. E vale a pena fazê-lo não apenas pelo mero objetivo de estabilidade do poder de compra, mas, sim, porque essa é a receita certa para o país crescer mais por um período prolongado.
O país vive hoje um problema inflacionário sério. É a primeira vez nos últimos dez anos que a inflação provavelmente ultrapassará o teto de tolerância de 6,5% sem que isso tenha sido causado por um repique da taxa de câmbio. Por que esse detalhe é importante? Porque, no caso brasileiro recente, os repiques do câmbio foram e voltaram, o que facilitou o caminho de volta da inflação para a meta.
Agora, vivemos essencialmente um problema de inflação de demanda, como as filas infindáveis nos aeroportos e as insistentes manchetes da imprensa nos sugerem. E a solução para esse problema provavelmente envolve uma contenção significativa do crescimento da demanda no curto prazo.
Antes desse, o único episódio recente em que observamos claramente uma inflação de demanda foi em 2008, antes da crise internacional (com a diferença de que, naquela época, a inflação não chegou a ultrapassar o limite de tolerância de 6,5%). E a lição que obtivemos daquele episódio é preocupante: foi preciso que o crescimento viesse muito abaixo de 4% para que a inflação viesse de 5,9% para 4,3% entre 2008 e 2009.
Respondendo, portanto, à pergunta que é tema do debate: dificilmente traremos o IPCA, que neste ano deve se aproximar dos 7%, de volta para o centro da meta em 2012 mantendo ao mesmo tempo um crescimento econômico acima de 4% no período.
Por que, então, não estender o período de convergência da inflação e aliviar custos sobre o produto no curto prazo? A resposta mais direta a essa pergunta é: porque já usamos essa opção no ano passado e esse não é o tipo de opção que se usa mais de uma vez em sequência.
Tivemos uma inflação de 5,9% em 2010, e a posição oficial para não trazê-la imediatamente para 4,5% neste ano foi de que isso seria muito custoso e que uma alternativa superior seria garantir que isso acontecesse apenas em 2012.
Não é difícil perceber que uma nova quebra dessa promessa, com a extensão do prazo de convergência, dessa vez para o ano de 2013, seria recebida com muita desconfiança pela sociedade.
O mundo e a nossa própria história estão repletos de exemplos de que inflação acima de 4,5% por um tempo prolongado é prejudicial ao crescimento econômico.
A razão básica para isso é que, acima desse patamar, a inflação passa a ser notada pela sociedade, que constrói mecanismos de defesa contra ela. Esses mecanismos, por sua vez, tendem a colocar a inflação em uma trajetória crescente e trazem a necessidade de um crescimento ainda mais baixo no futuro para contê-la.
Então, se valorizamos mais o crescimento médio do país nos próximos cinco anos do que o crescimento do próximo ano, deveríamos cobrar do Banco Central uma perseguição incansável da meta de 4,5% para a inflação de 2012.
Isso, junto de uma retomada dos esforços para elevar de forma sustentável a poupança interna (pública e privada), é a melhor estratégia para maximizarmos o crescimento do Brasil por período prolongado.

ANDREI SPACOV é doutor em economia pela Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA) e sócio da Gávea Investimentos.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


Texto Anterior: Cesar Maia: Fusão ou confusão?

Próximo Texto: Paulo Skaf: O país pode crescer sem inflação

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.