São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004

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COM ALÍVIO, SEM ILUSÕES

Segundo dados divulgados pelo IBGE, no primeiro trimestre do ano a economia completou nove meses de expansão, tendo alcançado o maior ritmo de crescimento desde o final de 1999. Os sinais de melhoria da atividade econômica, no entanto, não devem turvar a percepção dos grandes desafios que se apresentam para o país sustentar um processo de crescimento mais vigoroso e combater o desemprego e a queda de poder de compra dos trabalhadores.
A lista é extensa e gira em torno de fatores que inibem o crédito, o investimento, o consumo, a continuidade da alta das exportações e uma aceleração sustentada das contratações, em particular no setor formal.
O custo do crédito no Brasil continua muito alto, e sua redução requer não apenas cortar a taxa de juros básica mas criar mecanismos para reduzir o altíssimo "spread" bancário, ou seja, o enorme diferencial entre o custo da captação de recursos pelos bancos e a taxa paga por empresas e consumidores que tomam crédito.
A carga tributária, que já atingiu nível bastante alto para uma economia de renda média como a brasileira -e segue com tendência de aumento-, continua a sufocar consumidores e empresários. Iniciativas de reformas voltadas a corrigir essa distorção permanecem no limbo.
Os encargos trabalhistas oneram excessivamente as contratações no setor formal, estimulando a informalidade e a sonegação, que tanto prejudicam a arrecadação da Previdência Social. A reforma trabalhista que se faz necessária não avançou.
Os gargalos de infra-estrutura -em especial a má conservação da malha rodoviária, as graves deficiências do sistema portuário e, mais que tudo, a indefinição dos investimentos voltados a garantir suprimento suficiente de energia elétrica- ainda carecem de respostas eficazes.
Por fim, o próprio modelo de crescimento que se pretende viabilizar não está suficientemente definido. Faltam respostas sobre como se pretende conciliar a sustentação de um superávit comercial muito alto com a recuperação, imperiosa, do rendimento dos trabalhadores.
Essa é, evidentemente, uma listagem parcial. O ponto a enfatizar é que o alívio propiciado pela recuperação da atividade econômica não deveria suscitar ilusões quanto ao ponto em que nos encontramos. A retomada do crescimento econômico é ainda incipiente, como o são as iniciativas voltadas a consolidá-lo.


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