São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004

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VALDO CRUZ

Pé no chão

BRASÍLIA - O presidente Lula decolou rumo à China com o tempo fechado. Deixava para trás chuvas e trovoadas causadas pela decisão do Banco Central de não reduzir os juros. A Bolsa caía, os juros subiam, o risco-país disparava e o desemprego batia recorde em São Paulo.
Uma semana depois, embarcou de volta, vindo do México, com céu de brigadeiro. Os bons números do crescimento do PIB dissiparam o nevoeiro que encobria o Palácio do Planalto. A Bolsa subiu, o dólar e o risco-país caíram.
O clima apreensivo da ida se transformou em euforia na volta. O risco é acharem que agora tudo está resolvido, que o pior passou. Mas não passou, pode estar por vir.
O que o governo pode fazer, então, para manter e acelerar o ritmo de crescimento do país? O comentário de um ministro de primeira hora de Lula é revelador: "Basta não atrapalhar que as coisas vão funcionar".
Tudo bem. Em se tratando de governo Lula, isso realmente é vital. Porém é o mínimo. O governo precisa andar, algo que tem feito com grandes dificuldades. Sua agenda econômica não deslancha no Congresso. Os investidores ainda reclamam da indefinição de regras.
Amigos do presidente avaliam que só uma reforma ministerial desenguiça a máquina. Algumas peças simplesmente não funcionam. Nessa lista estão Humberto Costa (Saúde), Olívio Dutra (Cidades) e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário).
Sem falar que alguns ainda lembram que falta a Lula um Pedro Parente, um ministro com conhecimento da máquina, que saiba colocá-la em funcionamento. José Dirceu não estaria dando conta do recado -pelo menos é o que dizem.
A reforma ministerial virá, mas Lula não está disposto a promovê-la antes das eleições municipais. Vai aguardar o resultado das urnas para se posicionar. Até lá, o negócio é rezar para que um santo qualquer evite desastres pelo caminho.


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