São Paulo, sábado, 30 de maio de 2009

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Editoriais

Virar o jogo

Só opinião pública, ao pressionar dirigentes, pode transformar Copa de 2014 num marco da modernização do esporte

SER TORCEDOR de futebol é um traço da personalidade do presidente Lula que contribui para fixar sua imagem de político popular. Essa relação genuína com o esporte e o fato de ter sido o Estatuto do Torcedor a primeira lei por ele sancionada, em maio de 2003, encheram de esperanças os setores empenhados na modernização do esporte no país.
Ao lançar o Estatuto, formulado, na realidade, no último período do governo Fernando Henrique Cardoso, a partir de consultas e debates entre especialistas, o presidente Lula alertou para o fato de que "no Brasil há lei que pega e lei que não pega". E deu a receita: "Para pegar, é preciso que as pessoas responsáveis deste país comecem a falar dela, para que o torcedor seja respeitado na sua cidadania".
Passados seis anos, a frustração com os rumos que o esporte tomou não poderia ser mais aguda. Nada ou quase nada da lei "pegou", e o presidente não parece mais interessado em fazer com que pegue. Ao contrário, o governo federal curvou-se ao status quo mafioso que domina grande parte das confederações, federações, clubes e comitês esportivos do país, associando-se àqueles que deveria combater.
O Ministério do Esporte, transformado em aparelho do PC do B, pouco faz além de politicagem e agenciamento de verbas para projetos fracassados e obras nebulosas, como as do Pan de 2007, que, em meio a suspeitas de desvios, consumiu R$ 3,7 bilhões de verba pública -quase 800% mais do que o previsto.
A maioria dos clubes brasileiros enfrenta situação financeira deplorável e recebe benesses do poder público, como os recursos da loteria Timemania, sem a exigência de contrapartidas. O governo Lula não induz e não cria estímulo à adoção de modelos empresariais no futebol brasileiro. Parece satisfeito com o ambiente amadorístico, atrasado e corrupto que se conhece desde sempre.
Nesse contexto, a violência nos estádios permanece, o torcedor não é reconhecido como consumidor e o êxodo de atletas para o exterior só tem aumentado. O único avanço, se é que se pode chamá-lo assim, registrado recentemente no futebol brasileiro foi a adoção de um campeonato nacional estável, nos moldes dos europeus, com respeito às regras de acesso e rebaixamento -o que equivale a descobrir a roda na primeira década do século 21.
Amanhã serão conhecidas as 12 cidades-sede da Copa do Mundo, a ser disputada no Brasil em 2014. A realização desse grande evento deveria ser encarada como auspiciosa oportunidade para virar o jogo e colocar o esporte brasileiro em outro patamar. Mas isso vai depender da opinião pública -pois cartolas e autoridades continuam adeptos de velhos esquemas táticos.


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