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Editoriais
Virar o jogo
Só opinião pública, ao pressionar dirigentes, pode transformar Copa de 2014 num marco da modernização do esporte
SER TORCEDOR de futebol é
um traço da personalidade do presidente Lula que
contribui para fixar sua
imagem de político popular. Essa
relação genuína com o esporte e
o fato de ter sido o Estatuto do
Torcedor a primeira lei por ele
sancionada, em maio de 2003,
encheram de esperanças os setores empenhados na modernização do esporte no país.
Ao lançar o Estatuto, formulado, na realidade, no último período do governo Fernando
Henrique Cardoso, a partir de
consultas e debates entre especialistas, o presidente Lula alertou para o fato de que "no Brasil
há lei que pega e lei que não pega". E deu a receita: "Para pegar,
é preciso que as pessoas responsáveis deste país comecem a falar
dela, para que o torcedor seja
respeitado na sua cidadania".
Passados seis anos, a frustração com os rumos que o esporte
tomou não poderia ser mais aguda. Nada ou quase nada da lei
"pegou", e o presidente não parece mais interessado em fazer
com que pegue. Ao contrário, o
governo federal curvou-se ao
status quo mafioso que domina
grande parte das confederações,
federações, clubes e comitês esportivos do país, associando-se
àqueles que deveria combater.
O Ministério do Esporte,
transformado em aparelho do
PC do B, pouco faz além de politicagem e agenciamento de verbas para projetos fracassados e
obras nebulosas, como as do Pan
de 2007, que, em meio a suspeitas de desvios, consumiu R$ 3,7
bilhões de verba pública -quase
800% mais do que o previsto.
A maioria dos clubes brasileiros enfrenta situação financeira
deplorável e recebe benesses do
poder público, como os recursos
da loteria Timemania, sem a exigência de contrapartidas. O governo Lula não induz e não cria
estímulo à adoção de modelos
empresariais no futebol brasileiro. Parece satisfeito com o ambiente amadorístico, atrasado e
corrupto que se conhece desde
sempre.
Nesse contexto, a violência nos
estádios permanece, o torcedor
não é reconhecido como consumidor e o êxodo de atletas para o
exterior só tem aumentado. O
único avanço, se é que se pode
chamá-lo assim, registrado recentemente no futebol brasileiro
foi a adoção de um campeonato
nacional estável, nos moldes dos
europeus, com respeito às regras
de acesso e rebaixamento -o
que equivale a descobrir a roda
na primeira década do século 21.
Amanhã serão conhecidas as
12 cidades-sede da Copa do
Mundo, a ser disputada no Brasil
em 2014. A realização desse
grande evento deveria ser encarada como auspiciosa oportunidade para virar o jogo e colocar o
esporte brasileiro em outro patamar. Mas isso vai depender da
opinião pública -pois cartolas e
autoridades continuam adeptos
de velhos esquemas táticos.
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