São Paulo, domingo, 30 de maio de 2010

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ELIANE CANTANHÊDE

Nervosos

BRASÍLIA - Barack Obama pode até se esforçar para amenizar o clima de desconforto e até de irritação entre o Brasil e os EUA, mas que esse clima existe, existe.
A Casa Branca e a Secretaria de Estado não ficaram nada felizes com a publicação na Folha da íntegra da carta de Obama estimulando Lula a tentar o acordo com Irã e Turquia. Quando o acordo saiu, os EUA tiraram o corpo fora e aumentaram a pressão por sanções ao regime iraniano. Pimba! O Brasil vazou a carta. Foi legítima defesa.
Após classificar a ação diplomática brasileira no Irã de "ingênua", Hillary Clinton subiu o tom. Agora diz que o acordo nuclear só deu mais tempo aos iranianos, "torna o mundo mais perigoso" e transforma as divergências do Brasil com os EUA em "muito sérias".
A boa notícia na nova Estratégia de Segurança dos EUA é que cita o Brasil mais vezes do que a anterior, de George W. Bush. A má é que o documento faz uma diferenciação quase malvada. Enquanto Rússia, Índia e China são chamados de "centros de influência fundamentais", o Brasil -o "B" dos Bric- é empurrado para o lado da África do Sul e da Indonésia como "nação de crescente influência". Segundo time dos emergentes?
A vinda de Obama ainda no primeiro semestre, como parecia ter sido praticamente acertado com Hillary em Brasília, foi simplesmente descartada. Com a eleição presidencial muito polarizada, Lula a mil por hora e o Irã no meio, ele certamente achou mais prudente ficar quieto em Washington.
Está evidente que algo não vai bem. O que não é tão evidente é por que o Brasil parece estar saboreando esse embate com a potência de US$ 14 trilhões de PIB. Algum motivo há de ter. Óbvio não é.
Boas relações não se fazem apenas com convergências, mas administrando divergências. O problema é quando elas deixam de ser "ingenuidade" e se tornam "muito sérias". E acompanhadas de tantas trombadas e interrogações.


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