São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 2005

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MAIS DOUTORES

À primeira vista, inspiram otimismo os dados sobre a formação de pesquisadores no Brasil. Segundo os números mais recentes, em 2003 foram formados 8.094 doutores no país -cerca de 15% a mais do que no ano anterior. O projeto de reforma universitária apresentado pelo Ministério da Educação (MEC) prevê que metade das vagas do corpo docente nas universidades seja preenchida por doutores. E a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) considera que, em pouco mais de dez anos, 90% dos professores universitários poderão ter título de doutor.
É bem diferente, contudo, a realidade que se apresenta aos pesquisadores quando saem da universidade. Sem experiência profissional, acabam preteridos pelas empresas. Como mostrou reportagem publicada por esta Folha na última quarta-feira, apenas 6% dos doutores não empregados em atividades de docência são absorvidos pela iniciativa privada. A alegação dos empregadores costuma ser a mesma: o custo e o risco do investimento em pesquisa são altos, e o retorno a curto prazo, incerto.
Mais alarmante é a situação que os recém-doutorados encontram nas instituições privadas de ensino superior. Tendo em vista o salário mais alto a que teriam direito, muitos têm sido demitidos e substituídos por mestres. Daí o descalabro de professores que preferem esconder o título para garantir o emprego.
Não há dúvida de que o aumento do número de titulações revela amadurecimento da produção de conhecimento no país, mas é preciso que as empresas estabeleçam uma cultura de estímulo à pesquisa, sem o que o desenvolvimento tecnológico do país continuará limitado. Da mesma maneira, há que se induzir à mais ampla presença de professores qualificados nas universidades.


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