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MAIS DOUTORES
À primeira vista, inspiram otimismo os dados sobre a formação de pesquisadores no Brasil.
Segundo os números mais recentes,
em 2003 foram formados 8.094 doutores no país -cerca de 15% a mais
do que no ano anterior. O projeto de
reforma universitária apresentado
pelo Ministério da Educação (MEC)
prevê que metade das vagas do corpo
docente nas universidades seja
preenchida por doutores. E a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) considera que, em pouco mais de dez
anos, 90% dos professores universitários poderão ter título de doutor.
É bem diferente, contudo, a realidade que se apresenta aos pesquisadores quando saem da universidade.
Sem experiência profissional, acabam preteridos pelas empresas. Como mostrou reportagem publicada
por esta Folha na última quarta-feira,
apenas 6% dos doutores não empregados em atividades de docência são
absorvidos pela iniciativa privada. A
alegação dos empregadores costuma ser a mesma: o custo e o risco do
investimento em pesquisa são altos,
e o retorno a curto prazo, incerto.
Mais alarmante é a situação que os
recém-doutorados encontram nas
instituições privadas de ensino superior. Tendo em vista o salário mais
alto a que teriam direito, muitos têm
sido demitidos e substituídos por
mestres. Daí o descalabro de professores que preferem esconder o título
para garantir o emprego.
Não há dúvida de que o aumento
do número de titulações revela amadurecimento da produção de conhecimento no país, mas é preciso que
as empresas estabeleçam uma cultura de estímulo à pesquisa, sem o que
o desenvolvimento tecnológico do
país continuará limitado. Da mesma
maneira, há que se induzir à mais
ampla presença de professores qualificados nas universidades.
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