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CLÓVIS ROSSI
Madoff e a inveja
BASILEIA - A condenação do megavigarista Bernard Madoff a 150
anos de prisão é o tipo de acontecimento que dá uma baita inveja do
funcionamento do sistema legal
norte-americano. Madoff é claramente o "branco de olhos azuis"
que o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva culpou pela crise.
Com uma agravante: ele deu um
golpe, ao passo que os outros "brancos-de-olhos-azuis" se mexeram
nos estritos limites da legalidade de
um capitalismo desregulado e, por
isso mesmo, selvagem. Madoff não
é nem pobre nem negro -e, não
obstante, vai para a cadeia perpétua.
Perpétua porque -e aqui há outro elemento a invejar- a legislação
norte-americana determina que liberdade condicional só mesmo
após cumprir 80% da pena. Significa que Madoff só ficará livre se sobreviver 120 anos.
Terceiro elemento para inveja:
até aqui, as autoridades recuperaram US$ 1,2 bilhão do total de
US$ 13,2 bilhões de seus golpes. No
Brasil, desnecessário lembrar, nunca ninguém recupera nada de golpes dados contra o erário -e Madoff fez os seus trambiques contra
particulares, não contra os cofres
da nação.
Note bem, caro leitor, que eu não
tenho na boca o gosto de sangue.
Nem acho que criminosos dessa estirpe devam ser necessariamente
condenados à prisão. Prisão é para
quem representa risco de vida para
os demais. Pode-se alegar que, com
seus golpes, Madoff pôs em risco a
vida de quem a ele confiou seu dinheiro. OK, mas a punição mais
adequada é obrigá-lo a devolver tudo o que roubou.
Enquanto não o faz, aí, sim, que
fique na cadeia.
Note também, leitor, a rapidez
com que o caso se resolveu. No Brasil, qualquer rolo envolvendo gente
de olhos azuis e colarinho branco
leva séculos para ir a julgamento
-quando vai. E nenhum Madoff tapuia jamais foi preso.
crossi@uol.com.br
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