São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 2011

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ELIANE CANTANHÊDE

Às compras

BRASÍLIA - À perplexidade inicial com o anúncio de que o BNDES está despejando quase R$ 4 bi para o Pão de Açúcar comprar o Carrefour seguiu-se a expectativa de que logo haveria explicações. Em vão.
Quais os argumentos do Planalto, do BNDES e do empresário mui amigo Abílio Diniz para uma operação tão bilionária quanto estranha? Dizer que é para pôr produtos brasileiros em gôndolas internacionais é muito pouco. E nada mais foi explicado, muito menos justificado.
É legítimo que quem paga a conta -nós, contribuintes e consumidores, e eles, que trabalham nos dois supermercados- estejamos com a pulga atrás da orelha.
Começa com a definição do BNDES, banco de "desenvolvimento econômico e social" que deve investir na produção, na infraestrutura, na geração de empregos. Mas na fusão de supermercados?
Segue com os riscos de monopólio, o novo gigante dominando 32% do varejo supermercadista. Riscos para: fornecedores, que perdem margem de barganha; empregados, ameaçados de demissão; e consumidores, à mercê dos interesses e preços de um mercado praticamente sem competição.
Alguém aí acha que um proprietário vai manter dois supermercados um ao lado do outro? Que vai somar todos os atuais empregados? E que vai nivelar por baixo o preço de legumes, frutas, arroz, feijão, enlatados, produtos de higiene e limpeza e eletrodomésticos?
Sem falar nas questões jurídicas, pois a rede Casino, francesa, já contratou advogado brasileiro pronto para questionar a operação. O Brasil é acusado de não respeitar tratado bilateral com a Itália no caso Battisti e agora usa o BNDES para um negócio mal explicado que, aparentemente, rompe contratos. Bom para a imagem do país não é.
Que o beneficiário Diniz, o banco de fomento e o Planalto, que deu sinal verde para o negócio, venham a público não só explicar, mas também convencer. Se possível.

elianec@uol.com.br


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