São Paulo, domingo, 30 de julho de 2006

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PLÍNIO FRAGA

Não fuja, Lula

RIO DE JANEIRO - A possível ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva dos debates eleitorais, seguindo o exemplo de Fernando Henrique Cardoso em 1998, está baseada na mesma lógica que permitiu o mensalão. O projeto de poder é mais importante do que o projeto de país. O argumento de que o debate fará com que Geraldo Alckmin, Heloísa Helena e Cristovam Buarque -os três candidatos que participariam, segundo acordo entre os partidos- unam-se contra o atual presidente é mais do que pobre. É mesquinho, apequena Lula perante sua própria biografia.
Por piores que sejam, os debates permitem contrastes, comparações explícitas entre qualidades, currículos, propostas. São a melhor forma de o eleitor abalizar a escolha.
Ser um comunicador articulado -e Lula se orgulha da capacidade de "falar diretamente com o povo"- é uma qualidade na campanha e no governo. A verdadeira questão é o quanto um político pode ser falsificado, maquiado. Um candidato pode ter alguém que escreva os discursos dele e parecer articulado e inteligente. Em um debate, a sintaxe do candidato aparece de forma mais próxima da real, sem permitir correção por "speechwriters" (redatores de discursos).
Nas campanhas eleitorais, normalmente a ideologia é mascarada. Reformadores tendem a uma guinada à direita em suas promessas eleitorais para conquistar votos. Conservadores fazem concessões à esquerda na tentativa de expandir sua base. No debate, por mais ensaiado que um candidato esteja, um arquear de sobrancelha pode dizer o que as palavras escondem.
Presidente que foge ao debate mostra que "prefere ficar escondido atrás de publicidade paga com dinheiro do povo em vez de ir para o ringue lutar em igualdade de condições". E não sou eu quem disse isso: foi um tal de Luiz Inácio em 1998.


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