São Paulo, segunda-feira, 30 de julho de 2007

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PLÍNIO FRAGA

Um charuto é apenas um charuto

RIO DE JANEIRO - Eça de Queiroz escreveu um conhecido moto dos fumantes ao definir que pensar e fumar consistem em atirar pequenas nuvens ao vento. A foto da diretora da Anac Denise Abreu fumando um charuto, registro feito na festa de casamento da filha de um outro diretor da entidade em Salvador, causa um vendaval de críticas na internet como símbolo de descaso e prepotência das autoridades aéreas brasileiras.
Há momentos em que um charuto fala por aquele que o desfruta. Por exemplo, o que Denise Abreu fumava no casamento era um da marca Dona Flor, segundo atestou um cronista social de Salvador. Custa menos de R$ 15 e foi produzido no interior baiano pela empresa formada a partir da sociedade entre famílias brasileira e cubana, tendo esta deixado seu país natal com a assunção de Fidel Castro ao poder.
Apontada como indicação de José Dirceu, ex-asilado político em Cuba, Denise de Abreu sabia que, de alguma maneira, o charuto que escolhera era contra Fidel? Sim, porque produzido por uma família que se sentia protegida sob a ditadura de Fulgêncio Batista, mas não sob aquela que Fidel estabeleceria e foi então obrigada a emigrar.
A seguir José Dirceu, a diretora da Anac deveria ter escolhido um Cohiba, o charuto de Fidel, celebrizado como embaixador extraordinário da ilha, porque, de 1966 a 1982, só existiu para ser um presente do ditador cubano a seus diletos. Dirceu já foi presenteado; Lula também, mas, adepto das cigarrilhas, costumava repassá-los adiante.
Por caminhos tortos, as baforadas da diretora no charuto baiano poderiam até ser ato em favor da democracia ou mesmo da igualdade entre homens e mulheres. Mas, na maior parte das vezes, um charuto é apenas um charuto e só produz tempos nebulosos a quem deve buscar um céu de brigadeiro.


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