|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PLÍNIO FRAGA
Um charuto é apenas um charuto
RIO DE JANEIRO - Eça de Queiroz escreveu um conhecido moto
dos fumantes ao definir que pensar
e fumar consistem em atirar pequenas nuvens ao vento. A foto da diretora da Anac Denise Abreu fumando um charuto, registro feito na festa de casamento da filha de um outro diretor da entidade em Salvador, causa um vendaval de críticas
na internet como símbolo de descaso e prepotência das autoridades
aéreas brasileiras.
Há momentos em que um charuto fala por aquele que o desfruta.
Por exemplo, o que Denise Abreu
fumava no casamento era um da
marca Dona Flor, segundo atestou
um cronista social de Salvador.
Custa menos de R$ 15 e foi produzido no interior baiano pela empresa
formada a partir da sociedade entre
famílias brasileira e cubana, tendo
esta deixado seu país natal com a
assunção de Fidel Castro ao poder.
Apontada como indicação de José Dirceu, ex-asilado político em
Cuba, Denise de Abreu sabia que, de
alguma maneira, o charuto que escolhera era contra Fidel? Sim, porque produzido por uma família que
se sentia protegida sob a ditadura
de Fulgêncio Batista, mas não sob
aquela que Fidel estabeleceria e foi
então obrigada a emigrar.
A seguir José Dirceu, a diretora
da Anac deveria ter escolhido um
Cohiba, o charuto de Fidel, celebrizado como embaixador extraordinário da ilha, porque, de 1966 a
1982, só existiu para ser um presente do ditador cubano a seus diletos.
Dirceu já foi presenteado; Lula
também, mas, adepto das cigarrilhas, costumava repassá-los adiante.
Por caminhos tortos, as baforadas da diretora no charuto baiano
poderiam até ser ato em favor da
democracia ou mesmo da igualdade
entre homens e mulheres. Mas, na
maior parte das vezes, um charuto é
apenas um charuto e só produz
tempos nebulosos a quem deve
buscar um céu de brigadeiro.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Retrocesso Próximo Texto: Alba Zaluar: As regras do jogo Índice
|