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JOSÉ SARNEY
O segredo do sono
O professor Sidarta Ribeiro,
da UFRN, deixou a cabeça de
todo mundo confusa. É que,
por experiência pessoal, descobriu que estudar demais dá
um sono danado. Resolveu fazer um curso de imersão total
de inglês e, à proporção que
estudava, o corpo reagia e dormia mais. Chegou ao marco de
16 horas.
Eu, que tenho insônia desde os 30 anos, fiquei grilado. É
que o professor concluiu que
dormindo é que se aprende,
sonhando é que se fixa na memória o que se aprendeu.
Fiquei sem saber por que tinha aprendido tanta coisa ao
longo da vida, se minha experiência era estar sempre acordado e me envaidecendo da
memória de elefante que eu
julgava ter e a que o tempo tem
se encarregado de arrancar as
grandes orelhas e a tromba.
Aí me deu de também fazer
teorias. Para dormir sempre
fui ajudado pelas minhas diazepinas; será que essas, que
dizem prejudicar a memória,
podem, ao contrário, ajudá-la
e ao sono?
A Bíblia está cheia de sonhos desvendados e muitas
vezes Deus falou com o profetas no sono e aos santos, em
sonhos acordados, deu visões
do paraíso.
Não só os homens mas os
bichos dormem e sonham sem
precisar aprender inglês. Meu
avô tinha um cachorro, Seu
Beti. Na hora da sesta, deitava-se e ficava latindo baixinho,
intermitente e todos diziam:
"Está sonhando". Meu tio Ferdinand respondia: "E é com
carne e osso". No Nordeste há
um ditado que diz, quando
uma pessoa é dorminhoca,
que "dorme mais do que gato
de pensão". É que nestas hospedagens caseiras sempre
existe um gato dormindo debaixo da mesa ou na cozinha.
A verdade é que eu que não
durmo e tenho uma inveja danada desses dormidores, inclusive do gato.
Mas, folclore à parte, os
neurocirurgiões cerebrais descobriram agora uma neuronavegação que permite entrar
em qualquer zona da cabeça,
mesmo em áreas de difícil
acesso, e "fazer maravilhas",
como dizia Cervantes da catedral de Sevilha. É claro que isso vem dos novos equipamentos de precisão que permitem
uma pontaria exata para realizar os milagres.
E, com essas novas descobertas sobre o sono, o sonho,
dormir, acordar, ir às áreas de
ódio, de amor, de sexo, de
guerra, de bolivarianos, de
bem, de mal, de ficha suja e
limpa, não haveria um novo
campo para a política?
Os tribunais condenariam
os diversos tipos de transgressões a uma cirurgia de precisão indo aos pontos responsáveis por condutas indesejáveis. Ou então, mandar que sejam gatos de pensão ou fazer
boi dormir.
Talvez não tivéssemos essa
guerra de fronteira Venezuela-Colômbia ou a impugnação do
nome do Muricy Ramalho para técnico da seleção.
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta
coluna.
jose-sarney@uol.com.br
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