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De revolução e idiotia
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Você tem um carro que
vale, por baixo, por baixo, R$ 10 mil.
Mas, no sufoco, decide colocá-lo à
venda por, digamos, R$ 8 mil. Aí, na
volta para casa, teria a coragem de dizer à mulher: "Benhê, fiz uma revolução"?
Pois foi exatamente isso o que fez o
ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, ao usar a expressão "revolução" para designar a
venda do conglomerado Telebrás, em
"press-release" travestido de artigo
distribuído anteontem aos jornais.
Se vender o sistema telefônico é uma
"revolução", que qualificação daremos doravante à Revolução Francesa,
Russa ou mesmo à revolução da tecnologia de informação a que o mundo
assiste, meio tonto?
Nada contra a privatização da telefonia. Tudo contra o abuso nos conceitos, além de inúmeras dúvidas sobre o preço, a pressa, os métodos.
Dúvidas como a que esta Folha já
expressava em texto de 29 de agosto de
1996. Primeiro, relatava o fato de que
sucessivos governos seguraram as tarifas telefônicas, desde a criação da Telebrás, em 1971, a ponto de gerar o
chamado "passivo tarifário", então na
altura de R$ 16,4 bilhões.
Colocar a estatal à venda por R$ 13
bilhões soaria estranho, não fosse o fecho do texto citado: "Todo o lucro que
a estatal não desfrutou durante todos
esses anos ficará para o futuro proprietário privado".
De fato, é um negócio "revolucionário", não é?
Mas também o que esperar de um
país cujo principal telejornal (o "Jornal Nacional", da Rede Globo) dedica
dois blocos inteiros ao nascimento da
filha de uma artista que nem remotamente chega a ser um, digamos, Tom
Jobim? Fosse apenas o tempo jogado
fora, paciência. O problema é que,
nesse longo espaço, invadiu-se, com
enorme frequência, o território da
idiotia.
Deve ser a chegada da tal de "mudernidade".
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