São Paulo, quinta, 30 de julho de 1998

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De revolução e idiotia

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Você tem um carro que vale, por baixo, por baixo, R$ 10 mil. Mas, no sufoco, decide colocá-lo à venda por, digamos, R$ 8 mil. Aí, na volta para casa, teria a coragem de dizer à mulher: "Benhê, fiz uma revolução"?
Pois foi exatamente isso o que fez o ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, ao usar a expressão "revolução" para designar a venda do conglomerado Telebrás, em "press-release" travestido de artigo distribuído anteontem aos jornais.
Se vender o sistema telefônico é uma "revolução", que qualificação daremos doravante à Revolução Francesa, Russa ou mesmo à revolução da tecnologia de informação a que o mundo assiste, meio tonto?
Nada contra a privatização da telefonia. Tudo contra o abuso nos conceitos, além de inúmeras dúvidas sobre o preço, a pressa, os métodos.
Dúvidas como a que esta Folha já expressava em texto de 29 de agosto de 1996. Primeiro, relatava o fato de que sucessivos governos seguraram as tarifas telefônicas, desde a criação da Telebrás, em 1971, a ponto de gerar o chamado "passivo tarifário", então na altura de R$ 16,4 bilhões.
Colocar a estatal à venda por R$ 13 bilhões soaria estranho, não fosse o fecho do texto citado: "Todo o lucro que a estatal não desfrutou durante todos esses anos ficará para o futuro proprietário privado".
De fato, é um negócio "revolucionário", não é?
Mas também o que esperar de um país cujo principal telejornal (o "Jornal Nacional", da Rede Globo) dedica dois blocos inteiros ao nascimento da filha de uma artista que nem remotamente chega a ser um, digamos, Tom Jobim? Fosse apenas o tempo jogado fora, paciência. O problema é que, nesse longo espaço, invadiu-se, com enorme frequência, o território da idiotia.
Deve ser a chegada da tal de "mudernidade".



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