São Paulo, quinta, 30 de julho de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice O Brasil e o combate às drogas
O ano de 1998 entrará para a história como uma data marcante para o controle de uma das mais sérias epidemias enfrentadas nas últimas décadas pela humanidade: o abuso de drogas. No início de junho, os Estados-membros da ONU, reunidos em Nova York na sessão especial da Assembléia Geral das Nações Unidas sobre o problema mundial das drogas, chegaram pela primeira vez ao consenso de que as estratégias para a diminuição da demanda por drogas têm a mesma importância que as de redução da oferta. Na ocasião, o presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou a criação da Secretaria Nacional Antidrogas, aproximando esse tema da Presidência, dando maior unidade às políticas de controle e acenando com uma ação articulada tanto no campo da repressão contra o narcotráfico quanto nas áreas de prevenção e reabilitação. São dois fatos que, combinados, renovam as esperanças na construção de um futuro mais saudável para a população do Brasil, sobretudo para os jovens habitantes desta nação continental. Mas é preciso mais, muito mais. Como deixou evidente a sessão da Assembléia Geral, a questão ganhou tal complexidade que só a aliança entre setor público e sociedade pode enfrentar, com reais chances de êxito, a imensidão de problemas provocados pelo abuso de drogas e pela bilionária rede de narcotráfico que dele tira proveito. É essencial o envolvimento de empresas, sindicatos, escolas, meios de comunicação, igrejas, associações comunitárias e outras organizações não-governamentais nessa batalha. Todos esses agentes sociais têm enorme contribuição a dar; mas um papel muito especial cabe a empresários e executivos, que ajudam a fazer da economia brasileira uma das dez maiores do mundo. Infelizmente, ainda é tímida a atuação das empresas nesse campo. Daí a felicidade com que recebemos os resultados do 1º Congresso do Mercosul para a Prevenção de Drogas no Trabalho e na Família, recentemente realizado em Porto Alegre, por iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Controle Internacional de Drogas (UNDCP) e da Fiergs (Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul). Cerca de 800 pessoas -representando empresas de quase todos os Estados brasileiros, dos países do Mercosul, do Chile e da Bolívia- tomaram conhecimento da estimulante experiência de prevenção conduzida pelo Sesi (Serviço Social da Indústria) no Rio Grande do Sul, com apoio do UNDCP, da Organização Internacional do Trabalho e da Organização Mundial da Saúde. Criando comitês de prevenção em 39 empresas e cinco escolas profissionalizantes, esse projeto-piloto conseguiu atingir um universo de 46 mil trabalhadores, elevando de 58% para 77% o percentual de funcionários livres da dependência química (nela incluídos alcoolismo e tabagismo). A experiência demonstrou que ações de prevenção articuladas entre empresas e empregados produzem bons resultados. Mais do que isso, criam novas oportunidades para o exercício da cidadania e da solidariedade. Se há hoje um axioma incontestável, é o de que nenhuma organização empresarial moderna pode ficar indiferente à questão da dependência química. Evitá-la e combatê-la contribui para aumentar a qualidade de vida e a produtividade dos trabalhadores, além de auxiliar a sociedade a resolver um problema de saúde pública, com dramáticas implicações criminais e psicossociais. José Manuel Martínez-Morales, 44, advogado pela Universidade Complutense de Madri (Espanha), é representante no Brasil do Programa das Nações Unidas para o Controle Internacional de Drogas (UNDCP). Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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