São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2004

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VINICIUS TORRES FREIRE

A estabilidade conservadora de Lula

SÃO PAULO - A ascensão dos candidatos petistas-lulistas às prefeituras será mais uma escora da estabilidade conservadora, programa que claudicou sob Fernando Henrique Cardoso e que se realiza sob Lula da Silva.
Não se trata de inflação baixa, essa estabilidade. Trata-se da asfixia da alternativa política e das expectativas reformistas, da rendição geral ao casamento da política econômica conservadora com a progressiva universalização da esmola.
Não se sabe, claro, se virão crises financeiras externas (por definição imprevisíveis) nem se sabe ainda se a economia suporta mais dois ou três anos de crescimento entre 3,5%, dada a anemia da infra-estrutura. Não se sabe ainda, mas pode suportar.
Quase não há como mexer na base da política econômica pelos próximos dois anos sem produzir emendas piores que o soneto. Metas rígidas de inflação e a superestimação de inflação no mercado (afora algumas pressões reais de preços) encalacraram a política monetária por algum tempo.
O crescimento até a eleição de 2006 deve minar ainda mais a oposição. Além de incompetente e no mais das vezes apenas fisiológica (PFL), exagerou no próprio conservadorismo quando governo (PSDB), não tem projeto político ou idéias, tendo nada a dizer contra o PT, que apenas realiza o projeto tucano-mercadista.
Não existe governo Lula além da economia, da propaganda e de ameaças autoritárias.
A grande empresa aderiu animada ao governo ou dele não se queixa. Não há oposição social, popular, à vista. O programa de pequenas reformas econômicas, que em si não são más, é de discussão cativa de Fazenda, BC, academia conservadora e a nata pensante do mercado. Faltam crítica independente e política para dar força a tal crítica.
O governo, mesmo conservador, não vai conter a dívida pública tão cedo. Não haverá, pois, investimento público nem em habitação e saneamento, base de qualquer programa pela saúde e pelo emprego populares. A desigualdade permanecerá abjeta. Resta o sopão, criação dos anos 70 alavancada pela Carta de 88 e por FHC e que apenas ganhou rótulo novo sob Lula. É isto o Brasil.


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