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CARLOS HEITOR CONY
Atletas e poetas
RIO DE JANEIRO - Decididamente, o Brasil não faz o gênero das Olimpíadas, ou melhor, as Olimpíadas nada
têm a ver com o Brasil. Por mais que
os dirigentes se esforcem, alguma coisa não bate com o jeito brasileiro de
ser e sentir.
Gostamos de ganhar, é certo, e ganhar até em campeonato de bola de
gude e de cuspe à distância. Mas uma
Olimpíada não é um campeonato,
requer um trabalho coletivo de sapa,
que leva tempo, desenvolve-se em
surdina, mas em regime integral.
Nesse particular, as universidades
são fundamentais, os centros esportivos privados ou governamentais são
celeiros de novos atletas. Os países
que se destacam nos Jogos Olímpicos
desenvolvem programas de longo
prazo, preparando equipes de forma
continuada e massiva.
A índole nacional é individualista,
tirante o futebol, ultimamente o vôlei
e o basquete, onde nos destacamos,
mas que são modalidades coletivas,
nossos campeões individuais são raros, embora excepcionais. Eles nascem ao acaso, como a menina Daiane, grande personalidade, que funcionou como escoadouro de toda
uma torcida que mais a prejudicou
do que a incentivou.
Torcida feita de última hora, na base da emoção, ave rara e destacada
em sua modalidade. O mesmo se pode dizer dos outros atletas que trouxeram o bronze, a prata e o pouquíssimo ouro para o Brasil. Nos Estados
Unidos, na China, em Cuba, em países bem mais atrasados do que o Brasil em quase tudo, quando um concorrente tem um problema como o de
Daiane, há duas ou três Daianes de
reserva que levam o ouro.
Em tempo: na Grécia antiga, havia
uma modalidade olímpica que saiu
de moda: a poesia. O imperador Nero
ganhou a medalha de ouro e mandou fazer um arco de triunfo para comemorar sua vitória. Era um poeta:
mandou botar fogo em Roma.
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