São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Atletas e poetas

RIO DE JANEIRO - Decididamente, o Brasil não faz o gênero das Olimpíadas, ou melhor, as Olimpíadas nada têm a ver com o Brasil. Por mais que os dirigentes se esforcem, alguma coisa não bate com o jeito brasileiro de ser e sentir.
Gostamos de ganhar, é certo, e ganhar até em campeonato de bola de gude e de cuspe à distância. Mas uma Olimpíada não é um campeonato, requer um trabalho coletivo de sapa, que leva tempo, desenvolve-se em surdina, mas em regime integral. Nesse particular, as universidades são fundamentais, os centros esportivos privados ou governamentais são celeiros de novos atletas. Os países que se destacam nos Jogos Olímpicos desenvolvem programas de longo prazo, preparando equipes de forma continuada e massiva.
A índole nacional é individualista, tirante o futebol, ultimamente o vôlei e o basquete, onde nos destacamos, mas que são modalidades coletivas, nossos campeões individuais são raros, embora excepcionais. Eles nascem ao acaso, como a menina Daiane, grande personalidade, que funcionou como escoadouro de toda uma torcida que mais a prejudicou do que a incentivou.
Torcida feita de última hora, na base da emoção, ave rara e destacada em sua modalidade. O mesmo se pode dizer dos outros atletas que trouxeram o bronze, a prata e o pouquíssimo ouro para o Brasil. Nos Estados Unidos, na China, em Cuba, em países bem mais atrasados do que o Brasil em quase tudo, quando um concorrente tem um problema como o de Daiane, há duas ou três Daianes de reserva que levam o ouro.
Em tempo: na Grécia antiga, havia uma modalidade olímpica que saiu de moda: a poesia. O imperador Nero ganhou a medalha de ouro e mandou fazer um arco de triunfo para comemorar sua vitória. Era um poeta: mandou botar fogo em Roma.


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