São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 2011

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Um pequeno passo

Decisão de elevar poupança do governo se deve menos à contenção de gastos e mais às receitas; falta definir plano de austeridade para 2012

A decisão do governo de elevar sua poupança, chamada de superavit primário, para R$ 127,9 bilhões (3,15% do PIB) é um passo pequeno, mas positivo. Equivale a alta de R$ 10 bilhões (0,25% do PIB), em relação à meta anterior.
O incremento do superavit foi possibilitado por uma nova surpresa na arrecadação de impostos. Apenas em julho houve recolhimento extraordinário de R$ 8,1 bilhões, decorrentes de uma vitória judicial da União contra a Vale (R$ 5,8 bilhões) e de renegociações de dívidas de empresas com a Receita (R$ 2,3 bilhões).
De janeiro a julho, a arrecadação cresceu 22% contra o mesmo período de 2010, o que permitiu ao governo cumprir 80% da meta anterior do superavit para o ano. Obtido mais uma vez à custa do contribuinte, o novo alvo tem, portanto, menos mérito do que parece, embora ajude a reduzir a pressão política por liberações de verbas.
O objetivo tático do governo federal é convencer a sociedade de que haverá maior poupança fiscal daqui para a frente, abrindo margem para cortar os juros. Ao longo das últimas semanas, cresceu a impressão de que Fazenda e Banco Central estariam coordenados nesse propósito.
A tarefa não é simples. De fato, houve contenção de gastos de janeiro para cá. Mas, como sempre, o facão recaiu sobretudo nos investimentos públicos.
Para que o BC inicie um corte significativo de juros, o governo precisa apontar qual será o esforço fiscal nos anos vindouros -em particular, como pretende anular os vetores que indicam superavit menor já em 2012. Apenas a correção de 14% no salário mínimo e as isenções fiscais há pouco concedidas custarão quase R$ 50 bilhões, cinco vezes a alta do superavit anunciada ontem pelo governo.
Além disso, o Planalto ainda não explicou como pretende atingir a meta de 3% do PIB de poupança, sem descontar os investimentos tidos por prioritários a partir de 2012. A tarefa será muito difícil sem um controle sistêmico das contas de custeio e salários.
Nesse sentido, restaurar a ideia de um limite máximo para a variação das despesas, incluindo as sociais, abaixo da taxa de crescimento do PIB seria um caminho mais palpável. Isso facilitaria muito a tarefa de reduzir os juros da economia para níveis internacionais num horizonte visível.


Próximo Texto: Editoriais: Corregedoria ameaçada

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.