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BORIS FAUSTO
Marketing político
Quando o marketing político começou a aparecer, muita gente
-inclusive quem escreve estas linhas- imaginou que estávamos
diante de mais uma "cascata".
A desconfiança, em poucas palavras,
era fruto do racionalismo: os partidos
e os candidatos tinham ou deveriam
ter ideologia; os cidadãos seguiam ou
deveriam seguir pelo mesmo caminho. Como pensar que seria possível
vender candidatos como se vendem
sabonetes?
Com o correr do tempo, embora haja diferenças entre os dois tipos de
consumo, elas se encurtaram e hoje
poucos duvidam da influência do
marketing político no resultado de
uma eleição. Quem duvida paga o preço. Exemplifico com dois casos da
corrida presidencial: o de Ciro Gomes,
de um lado, e o de Lula, de outro. O
primeiro desdenhou dos grandes nomes e atribuiu a responsabilidade de
seu programa de televisão a um parente, se não estou enganado. Ao que
parece, o candidato julgava-se o marqueteiro de si mesmo, dados seus inegáveis dons de comunicação.
O resultado foi o que se viu. Seu programa não convence. Pior do que isso,
solto no espaço, Ciro foi um desastre,
surpreendendo amigos e adversários
com um comportamento descontrolado. Quase não seria preciso lembrar
as atitudes que revelaram preconceito
racial, arrogância, machismo, descrédito das instituições.
Lula e o PT, pelo contrário, renderam-se às virtualidades do marketing
político, com resultados positivos. Seria injusto dizer que a versão "paz e
amor" de Lula seja apenas uma grande montagem de Duda Mendonça. O
candidato, nas palavras e nos gestos,
mostrou uma evolução, quando lembramos um passado recente.
É bem verdade que, apesar dessa
evolução e do cuidado de seus assessores, o candidato petista, aqui e ali,
ainda escorrega feio. Exemplo: a afirmação de que o Brasil não virá a ser
uma Argentina, levantando uma onda
de indignação no país vizinho que
obrigou Lula a assinar um artigo explicativo.
De qualquer forma, o candidato
marcou pontos pessoais e se revelou
competente para ganhar a eleição,
embora ainda não a tenha ganho. O
problema, porém, não é o Lula candidato, e sim o Lula presidente, caso
chegue à Presidência. A essa altura -
missão cumprida - Duda Mendonça
terá ido para casa e as duras tarefas de
governo, em meio a uma situação delicada, seriam incontornáveis.
Que caminho Lula seguiria? Por
exemplo, na área econômica: o caminho da cautela, não perdendo de vista
os princípios do respeito aos contratos, da responsabilidade fiscal, do
combate à inflação, mesmo tratando
de acelerar o crescimento? Ou, pelo
contrário, cederia à tentação do crescimento a qualquer preço, conformando-se com o retorno da inflação
alta e da desordem financeira, para a
alegria de uma parcela da classe dominante? São algumas dentre muitas
perguntas para as quais o marketing
político não tem respostas, se é que alguém as tem.
Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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