São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 2002

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Quem bate cartão não vota em patrão

RUI PIMENTA

Após oito anos de grandes ataques do governo contra a maioria da nação e contra a economia nacional, FHC e os partidos que lhe dão sustentação deixaram o Estado falido e levaram às alturas a dívida externa, colocando o país num beco sem saída econômico.
No rastro da falência do Plano Real, vêm um desemprego sem precedentes, com mais de 20% da força de trabalho sem ocupação, um enorme retrocesso na capacidade produtiva do país, com desmonte de boa parte do seu parque industrial, atendendo aos interesses dos bancos nacionais e do imperialismo, a disseminação da miséria nas grandes metrópoles, com mais de 5.000 favelas, além do estarrecedor índice de mais de 30% da população sobrevivendo com menos de R$ 80 mensais.
Segundo dados oficiais, 50 milhões de brasileiros sofrem o flagelo da fome.
Na medida em que o país entra em uma espiral de crise econômica generalizada, acentua-se a luta entre as diversas facções políticas no interior da grande burguesia que hoje domina o governo federal -do PSDB ao PPB. Esse fato exprime o quanto é profunda a divergência sobre qual deve ser a conduta das classes dominantes na tentativa de resolução da enorme crise na qual afundaram o país.
Cada uma destas facções procura impor caminhos que preservem seus ganhos e seu espaço no poder do Estado nacional. A fragilidade do candidato tucano e a improbabilidade de emplacar uma candidatura burguesa secundária (Ciro ou Garotinho) expressam a falência dos partidos da burguesia brasileira e a sua incapacidade de se unificarem em torno de um nome comum para dirigir o Estado.
Nessas condições, coloca-se em evidência a ausência de uma direção para as lutas operárias. As atuais direções do movimento operário, como o PT e a Frente Popular, comandada por ele, mostraram com toda a clareza que estão embarcadas em uma política contrária aos interesses da classe trabalhadora e das massas, não apenas comprometendo-se com um programa de defesa dos interesses capitalistas que é comum a todas as facções burguesas (pagamento da dívida pública, manutenção do superávit fiscal e da política cambial, arrocho salarial, oposição à luta dos sem-terra etc.), como buscando levar ao governo, sob a cobertura da luta dos trabalhadores, elementos representativos do grande capital -como José Alencar, grande industrial têxtil do Partido Liberal e vice de Lula- e do carcomido regime político burguês -como Quércia, Itamar e outros.


As atuais direções do movimento operário estão embarcadas em uma política contrária aos interesses da classe


Por outro lado, as esperanças depositadas por amplos setores da classe operária em Lula, à revelia do programa e da política do PT, traduzem de modo distorcido a aspiração de um governo próprio dos trabalhadores da cidade e do campo. Mas o PT não quer ser esta alternativa. A conduta do partido nas prefeituras e Estados que dirige (privilégios aos grupos capitalistas locais, arrocho no funcionalismo, perseguição a perueiros e camelôs, cortes em verbas da educação etc.), a aliança com o PL, a repressão às greves, o apoio ao FMI, tudo isso revela cada vez mais a sua completa integração ao regime burguês.
Um eventual governo de Lula e do PT não será dos e para os trabalhadores, mas dos mesmos que governaram até hoje, contra os trabalhadores.
Para o movimento operário e o conjunto da população explorada, o grande desafio é construir uma alternativa real, nestas eleições e no próximo período: um novo partido, com um programa de luta por um governo dos trabalhadores da cidade e do campo.
Um partido que organize a luta pelas mais sentidas necessidades da classe trabalhadora, como a redução da jornada de trabalho para 35 horas semanais, sem corte salarial, para combater o desemprego; o salário mínimo vital de R$ 1.500, contra as propostas demagógicas defendidas pela esquerda (US$ 100, aumento de 100% etc.); a dissolução da PM e o fim da repressão contra a população pobre; o fim do vestibular, para que todos tenham acesso ao ensino superior gratuito e de qualidade; o controle operário da produção; o não-pagamento da dívida externa; a revogação de todas as privatizações realizadas no país; o assentamento de todos os sem-terra, com a expropriação do latifúndio, entre outras.
Com a burguesia dividida e as classes intermediárias em processo de deslocamento para a esquerda, abre-se o caminho para uma ascensão operária e das lutas populares em todo o país.
Quem bate cartão, não vota em patrão. É hora de construir um novo partido de luta dos trabalhadores. Esta é a bandeira principal do PCO nestas eleições.


Rui Costa Pimenta, 45, jornalista, editor do jornal "Causa Operária", é presidente nacional do PCO e candidato do partido à Presidência da República.



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