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CARLOS HEITOR CONY
A elite e a violência
RIO DE JANEIRO - O assunto pode parecer de interesse exclusivo da
cidade do Rio de Janeiro e da turba
multa que faz e consome cinema.
Mas tem alguma coisa a ver não só
com a realidade psicológica e social
do país inteiro, mas com a própria
condição humana, que não é lá essas coisas em matéria de coerência
e comportamento moral diante da
sociedade, tal como ela sempre se
apresentou.
Está em discussão um filme sobre o tipo de repressão que a polícia
carioca vem praticando contra bandidos, notadamente contra os traficantes que criaram e mantêm o crime organizado.
Não vi nem verei o filme, mas o
importante, segundo leio na imprensa, não é o que se passa na tela,
mas na platéia. As cenas de tortura
são aplaudidas, a violência contra a
violência provoca orgasmos. A luta
do bem contra o mal é mais do que
implícita, mas didática: se, na vida
real, fosse sempre assim, com a polícia torturando e matando os bandidos, a segurança voltaria à cidade
sitiada pelo crime.
O colunista Arnaldo Bloch, de "O
Globo", classificou o filme como
fascista, criando uma discussão que
se ampliou em outros arraiais da
mídia e nos círculos especializados
em cinema. Foi feita uma pressão
colossal para enviar "Tropa de Elite" para representar o Brasil na premiação do Oscar em 2008. A comissão encarregada da escolha indicou
outro produto nacional, considerado mais palatável ao gosto daqueles
que julgarão o melhor filme estrangeiro de 2007.
Em si, a questão é intrinsecamente cinematográfica, mas a reação
das platéias que estão assistindo ao
filme, inclusive em suas cópias pirateadas, é um índice da morbidez social provocada pela morbidez do
crime.
Soluções na base do olho por olho
são tradicionalmente adotadas por
regimes fascistas.
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