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UM "LULA" NO URUGUAI
Pesquisas de intenção de voto
para a eleição presidencial que
se realiza amanhã no Uruguai sugerem que o candidato da coalizão de
esquerda Frente Ampla, Tabaré Vázquez, poderá vencer já no primeiro
turno. A mudança prevista reveste-se
de especial ineditismo, pois encerra
um ciclo conservador de 174 anos, ao
longo do qual representantes dos
partidos tradicionais, o Colorado e o
Blanco, se revezaram no poder.
A confirmar-se a vitória de Vázquez, o Uruguai estará seguindo as
pegadas de vários outros países latino-americanos, como Brasil e Argentina, nos quais governos identificados com as políticas de liberalização econômica que prosperaram na
região na passagem da década de
1980 para 1990, foram sucedidos por
candidatos de centro-esquerda.
Muito dependente de exportações
para o Brasil, o Uruguai recebeu um
primeiro choque com a desvalorização do real em 1999. Em 2001, com a
bancarrota argentina, a recessão
aprofundou-se ainda mais. O resultado mede-se em dólares e no aumento da pobreza.
Em 1998, o PIB uruguaio era da ordem de US$ 22 bilhões. No ano passado, ficou na casa dos US$ 11 bilhões. Dos 3,3 milhões de habitantes
do país, 1,1 milhão são considerados
pobres e, destes, 100 mil encontram-se abaixo da linha da indigência. Estima-se que 500 mil uruguaios vivam
hoje no exterior.
São perdas que se tornam especialmente perceptíveis no país que algumas décadas atrás chegou a ser considerado a "Suíça latino-americana"
e que se orgulhava de proporcionar a
seus cidadãos excelente qualidade de
vida e educação comparável à de países do Primeiro Mundo.
Um pouco como o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva -a quem é freqüentemente comparado-, Tabaré
Vázquez, se de fato eleito, terá enormes dificuldades para concretizar as
esperanças que a população deposita
em seu governo. Além do irrealismo
que em geral caracteriza esse tipo de
expectativa, Vázquez terá de fazer
uma administração conciliadora. Para obter maioria legislativa, deverá
compor com a ala renovadora do
Partido Nacional (blancos), o que
tende a evitar experimentações arriscadas. Também como Lula, seu discurso, antes francamente esquerdista, está passando por um acelerado
processo de moderação.
Mantendo-se, como tudo indica,
dentro dos parâmetros de respeito às
normas democráticas, a provável
eleição de Tabaré Vázquez tende a
ser politicamente benéfica, na medida em que, depois de quase dois séculos de bipartidarismo, levará aos
uruguaios a experiência de uma real
alternância do poder. Mesmo que isso signifique descobrir que mudanças são muito mais fáceis de prometer do que de realizar.
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