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FERNANDO RODRIGUES
Cada vez mais iguais
SÃO PAULO - Eis uma definição precisa dos partidos políticos: "Apresentam níveis relativamente baixos de
unidade interna, carecem de um apego mais forte a uma ideologia ou a
um conjunto de metas políticas". E
mais: "Tradicionalmente preocupam-se, acima de tudo, em vencer as
eleições e controlar a contratação de
pessoal para o governo".
O autor da explicação é John F.
Bibby, cientista político norte-americano, e sua análise se refere aos principais partidos políticos dos Estados
Unidos, não aos brasileiros.
Por aqui, os maiores partidos seguem em marcha batida para um cenário semelhante. Consolida-se no
Brasil um processo de mimetização
do que se passa nos Estados Unidos.
As agremiações que representam o
"establishment", o PT incluso, cada
vez mais se parecem. Lula chegou ao
poder federal e repetiu, milímetro a
milímetro, a política macroeconômica de FHC e do PSDB.
Em São Paulo, é triste e necessário
reconhecer, pouca coisa mudará se
vencer Marta Suplicy ou o tucano José Serra. É até por isso que ambos
chegaram ao segundo turno.
Trata-se de uma constatação dura
para o petista de passeata, mas é lugar-comum em democracias representativas consolidadas. Muda-se o
partido e quase tudo fica igual
-exatamente como em "O Leopardo", no vatícinio de Lampedusa: "Se
queremos que tudo permaneça como
está, é preciso que tudo mude".
A constatação de John F. Bibby, renomado especialista, não está em algum jornal marginal de esquerda.
Foi retirada do livreto "Eleições
2004", preparado pelo Departamento
de Estado, o ministério das relações
exteriores norte-americano.
Alguém imagina ser possível o Itamaraty divulgar para estrangeiros
análise equivalente sobre os partidos
no Brasil? Dizer que, na prática, PT e
PSDB são parecidos quando chegam
ao poder? Impensável. Pelo menos
por enquanto. Aqui, a mania é esperar que um nhonhô ou partido chegue ao poder para mudar a vida do
país. É sonho. Puro sonho.
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