São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Cada vez mais iguais

SÃO PAULO - Eis uma definição precisa dos partidos políticos: "Apresentam níveis relativamente baixos de unidade interna, carecem de um apego mais forte a uma ideologia ou a um conjunto de metas políticas". E mais: "Tradicionalmente preocupam-se, acima de tudo, em vencer as eleições e controlar a contratação de pessoal para o governo".
O autor da explicação é John F. Bibby, cientista político norte-americano, e sua análise se refere aos principais partidos políticos dos Estados Unidos, não aos brasileiros.
Por aqui, os maiores partidos seguem em marcha batida para um cenário semelhante. Consolida-se no Brasil um processo de mimetização do que se passa nos Estados Unidos. As agremiações que representam o "establishment", o PT incluso, cada vez mais se parecem. Lula chegou ao poder federal e repetiu, milímetro a milímetro, a política macroeconômica de FHC e do PSDB.
Em São Paulo, é triste e necessário reconhecer, pouca coisa mudará se vencer Marta Suplicy ou o tucano José Serra. É até por isso que ambos chegaram ao segundo turno.
Trata-se de uma constatação dura para o petista de passeata, mas é lugar-comum em democracias representativas consolidadas. Muda-se o partido e quase tudo fica igual -exatamente como em "O Leopardo", no vatícinio de Lampedusa: "Se queremos que tudo permaneça como está, é preciso que tudo mude".
A constatação de John F. Bibby, renomado especialista, não está em algum jornal marginal de esquerda. Foi retirada do livreto "Eleições 2004", preparado pelo Departamento de Estado, o ministério das relações exteriores norte-americano.
Alguém imagina ser possível o Itamaraty divulgar para estrangeiros análise equivalente sobre os partidos no Brasil? Dizer que, na prática, PT e PSDB são parecidos quando chegam ao poder? Impensável. Pelo menos por enquanto. Aqui, a mania é esperar que um nhonhô ou partido chegue ao poder para mudar a vida do país. É sonho. Puro sonho.


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