São Paulo, terça-feira, 30 de outubro de 2007

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PLÍNIO FRAGA

O Fator K argentino

RIO DE JANEIRO - A campanha vitoriosa de Cristina Fernandez de Kirchner à Presidência argentina ocorreu em ambiente político morno, com desprezo pelo debate por parte do casal situacionista e falta de discurso oposicionista.
Assim como Lula fez na disputa de 2006, a estratégia dos Kirchner isolava Cristina Fernandez da possibilidade de questionamentos por jornalistas. Só vinha a público manifestar-se por meio de discursos, e cumpriu uma extensa agenda internacional para mostrar-se preparada para o cargo que alçava.
Uma das inserções mais competentes de Cristina Kirchner mostrava crianças de 5, 6 anos sendo instadas a responder o que é FMI. Uma banda, um país distante, um pato, respondem, angelicais. A chave de ouro aparecia em seguida: "Fizemos com que seus filhos não tivessem nem idéia do que seja o FMI. Agora falta que o exterior, em vez de nos fazer empréstimos, venha investir cada vez mais".
A Argentina vive uma crise de energia há três anos sem que haja luz no fim do túnel. O governo maquia números de inflação como resposta ao desabastecimento. Manchetam os jornais: "Campanha do boicote ao tomate faz sucesso", entendido como tal que ninguém consumia um produto que ninguém encontrava. Buenos Aires segue uma cidade adorável, apesar de o lixo nas ruas distantes dos bairros ricos demonstrar um sistema a caminho da putrefação.
Os ambientalistas chamam de Fator K o limite de exaustão de um ecossistema, o que define sua capacidade de recuperar-se diante de uma agressão. A possibilidade de uma administração de sucesso de Cristina Kirchner depende do quanto Néstor Kirchner esgarçou o sistema socioeconômico do país. O Fator K argentino repousa no leito presidencial -sob sérias dúvidas se desfruta do sono dos justos.


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