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PLÍNIO FRAGA
O Fator K argentino
RIO DE JANEIRO - A campanha
vitoriosa de Cristina Fernandez de
Kirchner à Presidência argentina
ocorreu em ambiente político morno, com desprezo pelo debate por
parte do casal situacionista e falta
de discurso oposicionista.
Assim como Lula fez na disputa
de 2006, a estratégia dos Kirchner
isolava Cristina Fernandez da possibilidade de questionamentos por
jornalistas. Só vinha a público manifestar-se por meio de discursos, e
cumpriu uma extensa agenda internacional para mostrar-se preparada para o cargo que alçava.
Uma das inserções mais competentes de Cristina Kirchner mostrava crianças de 5, 6 anos sendo
instadas a responder o que é FMI.
Uma banda, um país distante, um
pato, respondem, angelicais. A chave de ouro aparecia em seguida: "Fizemos com que seus filhos não tivessem nem idéia do que seja o
FMI. Agora falta que o exterior, em
vez de nos fazer empréstimos, venha investir cada vez mais".
A Argentina vive uma crise de
energia há três anos sem que haja
luz no fim do túnel. O governo maquia números de inflação como resposta ao desabastecimento. Manchetam os jornais: "Campanha do
boicote ao tomate faz sucesso", entendido como tal que ninguém consumia um produto que ninguém
encontrava. Buenos Aires segue
uma cidade adorável, apesar de o lixo nas ruas distantes dos bairros ricos demonstrar um sistema a caminho da putrefação.
Os ambientalistas chamam de
Fator K o limite de exaustão de um
ecossistema, o que define sua capacidade de recuperar-se diante de
uma agressão. A possibilidade de
uma administração de sucesso de
Cristina Kirchner depende do
quanto Néstor Kirchner esgarçou o
sistema socioeconômico do país. O
Fator K argentino repousa no leito
presidencial -sob sérias dúvidas se
desfruta do sono dos justos.
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