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FERNANDO CANZIAN
Iluminismo americano
FOTOGRAFADO do espaço por
satélites, à noite, o mapa iluminado dos Estados Unidos
reflete basicamente o resultado da
última eleição presidencial no país,
em 2004. Onde há concentração de
luzes (e gente), venceram os democratas. Nas áreas menos iluminadas e escuras, levaram os republicanos e o presidente George W.
Bush.
Os rasgos de luzes estão posicionados em três faixas: nos extremos
das costas Oeste (onde estão cidades mais liberais, como São Francisco e Los Angeles) e Leste (Nova
York, Boston) e em uma grossa linha transversal na porção mais à
direita do país, tendo Chicago, em
Illinois, como pivô.
Cada eleição tem a sua própria
dinâmica. A atual nos EUA, daqui a
cinco dias, tem como principal motivo condutor a promessa, de ambos os candidatos, de virar a amarga página do governo Bush.
As pesquisas do momento apontam para a vitória do democrata
Barack Obama. Para um negro de
48 anos em um país racista e conservador como os EUA, já é um feito extraordinário chegar aonde
chegou. Mas não é só isso. Obama é
também emissário de uma plataforma bem mais liberal do que a de
seu antecessor democrata na Casa
Branca, Bill Clinton (1993-2001),
cujas posições em campanhas em
quase nada se diferenciavam das
dos republicanos.
Para vencer, Obama parece estar
contando mais com os novos eleitores e com os americanos (cerca
de 40% do eleitorado) que regularmente deixam de votar nas eleições no país, onde o voto é facultativo. Apelando para a indignação
dessa parcela, o democrata espera
tirá-los do sofá na próxima terça.
O mais impressionante, porém,
não é a liderança de Obama a essa
altura. Mas a resistência conservadora nos EUA. E as reais chances
que seu adversário, John McCain,
ainda tem de ganhar essa parada
-mesmo tendo votado 90% das
vezes alinhado a Bush no Senado.
Vai se tornando também cristalino a cada dia que a atual crise nos
EUA se assemelha a um tsunami.
Algumas das grandes ondas já atingiram a praia, preparando o terreno para a maior delas, quando o desemprego começar a crescer com
mais força, nos próximos meses.
A dinâmica dessa crise, com origem no setor imobiliário, tende a
afetar mais diretamente as áreas
"menos iluminadas" no país, onde
há maiores concentrações de proprietários de imóveis. Em grandes
cidades, como Nova York e São
Francisco, as proporções de casas
alugadas chegam a 60%.
Quem quer que seja, o novo presidente acabará rapidamente identificado negativamente com os fortes efeitos da crise, ao longo de
2009 e adiante. Se de fato for Obama, não será desta vez que boa parte dos EUA deixará o mundo das
trevas.
FERNANDO CANZIAN é repórter especial da Folha.
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