São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2008

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FERNANDO CANZIAN

Iluminismo americano

FOTOGRAFADO do espaço por satélites, à noite, o mapa iluminado dos Estados Unidos reflete basicamente o resultado da última eleição presidencial no país, em 2004. Onde há concentração de luzes (e gente), venceram os democratas. Nas áreas menos iluminadas e escuras, levaram os republicanos e o presidente George W. Bush.
Os rasgos de luzes estão posicionados em três faixas: nos extremos das costas Oeste (onde estão cidades mais liberais, como São Francisco e Los Angeles) e Leste (Nova York, Boston) e em uma grossa linha transversal na porção mais à direita do país, tendo Chicago, em Illinois, como pivô.
Cada eleição tem a sua própria dinâmica. A atual nos EUA, daqui a cinco dias, tem como principal motivo condutor a promessa, de ambos os candidatos, de virar a amarga página do governo Bush. As pesquisas do momento apontam para a vitória do democrata Barack Obama. Para um negro de 48 anos em um país racista e conservador como os EUA, já é um feito extraordinário chegar aonde chegou. Mas não é só isso. Obama é também emissário de uma plataforma bem mais liberal do que a de seu antecessor democrata na Casa Branca, Bill Clinton (1993-2001), cujas posições em campanhas em quase nada se diferenciavam das dos republicanos.
Para vencer, Obama parece estar contando mais com os novos eleitores e com os americanos (cerca de 40% do eleitorado) que regularmente deixam de votar nas eleições no país, onde o voto é facultativo. Apelando para a indignação dessa parcela, o democrata espera tirá-los do sofá na próxima terça.
O mais impressionante, porém, não é a liderança de Obama a essa altura. Mas a resistência conservadora nos EUA. E as reais chances que seu adversário, John McCain, ainda tem de ganhar essa parada -mesmo tendo votado 90% das vezes alinhado a Bush no Senado.
Vai se tornando também cristalino a cada dia que a atual crise nos EUA se assemelha a um tsunami.
Algumas das grandes ondas já atingiram a praia, preparando o terreno para a maior delas, quando o desemprego começar a crescer com mais força, nos próximos meses.
A dinâmica dessa crise, com origem no setor imobiliário, tende a afetar mais diretamente as áreas "menos iluminadas" no país, onde há maiores concentrações de proprietários de imóveis. Em grandes cidades, como Nova York e São Francisco, as proporções de casas alugadas chegam a 60%.
Quem quer que seja, o novo presidente acabará rapidamente identificado negativamente com os fortes efeitos da crise, ao longo de 2009 e adiante. Se de fato for Obama, não será desta vez que boa parte dos EUA deixará o mundo das trevas.


FERNANDO CANZIAN é repórter especial da Folha.


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