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FERNANDO GABEIRA
O ovo da serpente
RIO DE JANEIRO - A violência no
Rio é muito debatida quando há
grandes fatos, crimes revoltantes.
No entanto, muitas coisas acontecem numa quase surdina, e elas são
o indício de que os tempos podem
ser piores.
Há alguns meses, o site do jornal
"O Dia" divulgou um vídeo da comemoração do aniversário de um
traficante no Complexo do Alemão.
Havia uma tal concentração de armas nas mãos dos participantes da
festa que pareciam preparados para
dominar uma boa parte da cidade.
Fuzis pendurados no peito, o aniversário parecia um momento de
descanso de um exército tropical e
descamisado.
Aquilo passou. Afinal é preciso
tocar as obras do PAC. Agora, no auge da crise do helicóptero abatido,
surgiu uma outra despretensiosa
notícia no jornal da rádio Bandeirantes: um potencial candidato a
deputado foi assassinado em Rio
das Pedras, região dominada pelas
milícias. O corpo foi encontrado na
Cidade de Deus, com perfurações
de bala e sinais de tortura.
Às vezes, quando se dá a crise, a
sensação que temos é que tudo vai
mudar. O governo anuncia medidas, Brasília envia mais dinheiro e
todos tentam dormir tranquilos.
O processo não para. Enquanto
se discute se a pré-campanha presidencial está nos limites da lei, uma
outra pré-campanha está em curso.
Ela começa com a eliminação física
de adversários. Tanto no Complexo
do Alemão como em Rio das Pedras, os vínculos entre política e crime passam ao largo e, quando surgem acontecimentos espetaculares,
parecem relâmpago em céu azul.
Todos esses fuzis e metralhadoras estarão diante de nós na campanha de 2010. Não é difícil saber a
quem servem. O foco atual é o comércio de drogas. Mas, durante o
período não eleitoral, esquecemos
do comércio de votos, ao qual as armas servem com grande eficácia.
Servem a quem?
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