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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Óleo e fé eleitorais
SÃO PAULO - A política funciona
muitas vezes por meio de símbolos.
E não poderiam ser mais simbólicas
as imagens estampadas na capa da
Folha de ontem, na antevéspera da
eleição presidencial. Elas de certa
forma sintetizam o que foi (e deixou de ser) a campanha presidencial no segundo turno.
Na foto de cima, em visita a Minas Gerais, José Serra aparecia beijando uma estatueta da Nossa Senhora da Abadia, segurando-a com
as duas mãos. Logo abaixo estava
Lula, uniforme laranja e capacete
da Petrobras, cheirando na própria
mão o óleo extraído da reserva de
Tupi, que integra o pré-sal. Também era simbólica a ausência de
qualquer imagem de Dilma Rousseff, por razões óbvias.
Alguém poderia dizer: quem não
tem pré-sal caça com fé. Ou, talvez,
quem não tem Lula, vai de Bento 16.
Ontem, no programa de encerramento da campanha petista na TV,
o presidente a certa altura disse
que, pela primeira vez em cinco
eleições, o seu "retratinho" não está na urna. E logo completou: "Mas
quando você apertar o 13 e aparecer
o retratinho da Dilma... vai estar votando um pouquinho em mim".
A frase soa como uma espécie de
súmula e apoteose do lulismo. Ela é
o cúmulo do culto à personalidade
e também uma forma de estelionato eleitoral -tudo em benefício óbvio da candidata, mas em prejuízo
da provável presidente já a partir de
segunda-feira, quando o fantasma
do pai onipresente começará a assombrar a filha eleita.
Ninguém imaginaria que Bento
16 pudesse dizer: "Quando você
apertar 45 e aparecer o retratinho
do Serra... vai estar votando um
pouquinho em mim".
Mas a cobrança do papa sobre a
igreja brasileira, exigindo que os
padres emitam "juízo moral mesmo
em matérias políticas", só se explica, neste momento, pela atitude
surpreendente do candidato tucano. Serra decidiu usar a religião como arma eleitoral; acabou por
transformá-la num espelho do seu
calvário político.
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