São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Óleo e fé eleitorais

SÃO PAULO - A política funciona muitas vezes por meio de símbolos. E não poderiam ser mais simbólicas as imagens estampadas na capa da Folha de ontem, na antevéspera da eleição presidencial. Elas de certa forma sintetizam o que foi (e deixou de ser) a campanha presidencial no segundo turno.
Na foto de cima, em visita a Minas Gerais, José Serra aparecia beijando uma estatueta da Nossa Senhora da Abadia, segurando-a com as duas mãos. Logo abaixo estava Lula, uniforme laranja e capacete da Petrobras, cheirando na própria mão o óleo extraído da reserva de Tupi, que integra o pré-sal. Também era simbólica a ausência de qualquer imagem de Dilma Rousseff, por razões óbvias.
Alguém poderia dizer: quem não tem pré-sal caça com fé. Ou, talvez, quem não tem Lula, vai de Bento 16.
Ontem, no programa de encerramento da campanha petista na TV, o presidente a certa altura disse que, pela primeira vez em cinco eleições, o seu "retratinho" não está na urna. E logo completou: "Mas quando você apertar o 13 e aparecer o retratinho da Dilma... vai estar votando um pouquinho em mim".
A frase soa como uma espécie de súmula e apoteose do lulismo. Ela é o cúmulo do culto à personalidade e também uma forma de estelionato eleitoral -tudo em benefício óbvio da candidata, mas em prejuízo da provável presidente já a partir de segunda-feira, quando o fantasma do pai onipresente começará a assombrar a filha eleita.
Ninguém imaginaria que Bento 16 pudesse dizer: "Quando você apertar 45 e aparecer o retratinho do Serra... vai estar votando um pouquinho em mim".
Mas a cobrança do papa sobre a igreja brasileira, exigindo que os padres emitam "juízo moral mesmo em matérias políticas", só se explica, neste momento, pela atitude surpreendente do candidato tucano. Serra decidiu usar a religião como arma eleitoral; acabou por transformá-la num espelho do seu calvário político.


Texto Anterior: Editoriais: Reinações do CNE

Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: A preguiça da oposição
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.