São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2011

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HÉLIO SCHWARTSMAN

Quanto mais gente, melhor

SÃO PAULO - Para quem acredita em projeções demográficas, nasce amanhã o heptabilionésimo habitante da Terra. Notícias como essa nos fazem pensar em escassez, o que mobiliza o circuito cerebral do medo, provocando uma enxurrada de previsões catastrofistas sobre o futuro do planeta. Thomas Malthus é o mais célebre dos profetas cujos vaticínios nunca se realizaram, mas de maneira alguma o único.
É claro que mais gente significa mais pressão sobre o ambiente, mas daí não decorre que limitar o número de nascimentos seja a melhor forma de lidar com o problema.
Há uma corrente de economistas, encabeçada por Julian Simon, que sustenta que quanto mais pessoas no planeta, melhor. A tese é polêmica e contraintuitiva, mas vem acompanhada de argumentos ponderáveis.
Ao longo dos últimos dois séculos, a população da Terra disparou e, com ela, o nível de prosperidade.
Nunca antes na história o homem viveu e consumiu tanto. Mesmo assim, os produtos, medidos em horas-trabalho, nunca foram tão baratos. A razão para isso é que, com o saber e a tecnologia acumulados, fazemos muito mais com bem menos.
Para Simon, o que gera a riqueza, em última análise, são ideias. A imaginação humana, diz, é o recurso final -e inexaurível. Um item como o cobre até pode acabar. Mas, à medida que ele escasseia, seu preço aumenta, o que leva indivíduos inventivos a desenvolver alternativas.
Mais gente no planeta não só aumenta a probabilidade de surgirem novas ideias como ainda cria o mercado de consumidores que faz com que as invenções se paguem. Há outros benefícios, como garantir a viabilidade de sistemas previdenciários.
Se o problema é o aquecimento global, faz mais sentido criar uma taxa sobre o carbono e esperar as soluções do que limitar a reprodução.
Mesmo que não compremos as teses de Simon pelo valor de face, elas tiveram o mérito de exorcizar os fantasmas neomalthusianos do debate.


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