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CLÓVIS ROSSI
Deixa os RICs p'ra lá
SÃO PAULO - Jim O'Neill, economista da Goldman Sachs, inventou
o acrônimo Bric ( Brasil, Rússia, Índia e China), que seriam as potências mundiais em 2020.
Outro dia, O'Neill admitiu ter se
equivocado ao fazer outra previsão,
a de que haveria o famoso "decoupling" (descasamento) entre os países ricos e os emergentes na crise
global. Ora, se foi incapaz de enxergar o que aconteceria meses à frente, quem pode levar a sério uma
previsão sua feita para 20 anos à
frente, já que o termo Bric foi cunhado em 2001?
Quem pode? Fácil de responder:
o governo brasileiro, que, todo pimpão, comemorou primeiro uma
reunião ministerial dos Brics e, agora, uma futura cúpula.
Nada contra reuniões com quem
quer seja. Mas é uma imensa bobagem achar que há alguma comunhão entre os quatro países só porque uma entidade financeira com
interesses em todos eles viu numa
bola de cristal embaçada um grande
futuro para o grupo.
Não há nada em comum, histórica, geográfica, social, cultural e institucionalmente falando, entre os
Brics. Pior para o Brasil: é, de todos,
o que tem uma situação institucional melhor e mais sólida. Logo, ser
apontado como "companheiro" de
países com problemas institucionais graves pode não ser um bom
negócio.
Sobre a Índia, basta reproduzir
editorial de ontem desta Folha:
"Violência sectária, conflitos de
fronteira, atentados terroristas e
assassinatos de políticos marcam
os 51 anos de história da Índia independente".
A Rússia é uma ditadura com verniz democrático leve e um ambiente de negócios em que só prosperam os incondicionais do Kremlin.
A China é uma ditadura. Ponto.
Não estou dizendo, claro, que o
Brasil é perfeito, mas, se é para andar em companhias de que orgulhar-se, que o seja com modelos
mais saudáveis.
crossi@uol.com.br
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