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CARLOS HEITOR CONY
Causas e efeitos
RIO DE JANEIRO - Li, não sei onde, que as inundações em Santa Catarina tiveram como causa a progressiva devastação da selva amazônica. Tudo é possível: cada árvore
derrubada lá em cima equivale a
uma rua alagada aqui em baixo. A
Bíblia dá conta de um dilúvio bem
maior. As cataratas do céu se abriram e choveu durante 40 dias e 40
noites, não apenas Santa Catarina,
mas toda a face da Terra ficou
inundada.
Parece que naquele tempo não
chegou a haver desmatamento nem
na Amazônia nem em lugar nenhum. Foi um castigo de Deus ao
ver o que homens e mulheres andavam fazendo.
Pensando bem, acho que a causa
é mesmo esta: homens e mulheres,
ao longo dos séculos, não ficaram
no bem-bom, fazendo o que é gostoso e que tanto desagradou o Criador. Fizeram vários tipos de fumaça. Depois da roda, que era inofensiva, inventaram motores a combustão, aviões a jato, usinas nucleares.
Num romance que publiquei ali
pelos inícios dos anos 60, coloquei o
personagem principal, um velhinho
de 65 anos, esfregando as mãos no
suéter que acabara de vestir, apesar
de ser verão, e constatando: "Isso
são efeitos da bomba atômica!". No
Catumbi, onde morava, começava a
fazer frio em dezembro e calor em
junho. Só podia ser efeito das explosões nucleares. E se consolava:
"No meu tempo é que elas não
existiam!".
Na catástrofe que se abateu no sul
do país -e periodicamente em outros lugares do mundo-, as causas
variam, mas é uma só: a degradação
ambiental e o descaso governamental. A deputada Luciana Genro, nesta semana, fez comovente apelo na
Câmara, lamentando que o presidente da República só visitou as regiões inundadas dias depois da calamidade que matou tanta gente e
alagou cidades inteiras, naquela
que pode ser considerada a maior
tragédia do ano.
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